O partido anti-China e pró-EUA da presidenta Tsai Ing-wen sofreu uma derrota acachapante nas eleições de sábado em Taiwan, que se gabara de que seria uma espécie de referendo sobre seu governo.
O número de prefeituras dos Democratas Progressistas (DPP) caiu pela metade, para seis, enquanto o Kuomitang (KMT), favorável a melhores relações com Pequim, conquistou quinze. Uma ficou com um candidato independente.
Após o fiasco, Tsai anunciou sua renúncia à presidência do Partido. Ela aceitou, ainda, o pedido de renúncia do primeiro-ministro, Willy Lai Ching-te.
Entre as razões para o pronunciamento popular nas urnas – Tsai vencera em 2016 por larga margem -, estão o descontentamento com a política de confronto com a China e o arrocho desencadeado pelo governo do DPP, que é abertamente pró-separatismo.
O jornal China Daily disse em editorial que Tsai havia ignorado a “postura cooperativa” de Pequim e empurrado as relações para um impasse. Acrescentou, ainda, que “sua posição separatista perdeu o apoio das pessoas na ilha”. “Espera-se que a comunicação entre os dois lados e a cooperação entre os governos locais seja reforçada como resultado da eleição, o que trará mais oportunidades e ajudará a aprofundar o entendimento mútuo”, assinalou o jornal.
Para o diretor do Escritório de Assuntos Taiwaneses em Pequim, Ma Xiagoguang, os eleitores expressaram seu desejo de “compartilhar os benefícios do desenvolvimento pacífico” e de melhorar “a economia da ilha e o bem estar de sua gente”.
Han Kuo-yu, o prefeito eleito do Kuomintang na cidade portuária de Kaohsiung – antes um reduto do DPP -, e o mais destacado dos vencedores, anunciou que vai abrir as portas para os contatos com a China. Pequim tem recebido de braços abertos as delegações do Kuomitang, que não endossou o separatismo.
Com a vitória da Revolução Chinesa e fundação da República Popular da China, o Kuomitang, sob proteção dos EUA, se refugiou em 1949 na ilha de Taiwan, e durante décadas inclusive falou indevidamente em nome de povo chinês, até que a derrota dos EUA no Vietnã forçasse o governo de Nixon a realizar a abertura em direção a Pequim, que culminou com a restauração de Pequim na ONU e o estabelecimento de laços diplomáticos.
O que ocorreu sob a política de “Uma Só China” – o princípio de uma só nação chinesa, sendo que qualquer país poderia ter relações com Pequim ou Taiwan, mas não com os dois ao mesmo tempo.
Nos últimos anos, o governo chinês realizou enormes gestos de abertura para pavimentar o caminho para a reunificação, que será pacífica desde que não haja a secessão, como trama o DPP, e as relações entre o Kuomitang e Pequim tiveram grande desenvolvimento e muitas empresas de Taiwan possuem unidades fabris na parte continental.
O governo Trump, que abertamente considera a China como o principal empecilho à manutenção da hegemonia norte-americana sobre o planeta, tem investido na carta de Taiwan, visando dificultar a reunificação. Outras partes da China que foram ocupadas pelas potências estrangeiras durante o período de decadência já foram reunificadas pacificamente, caso de Hong Kong e Macau.
Em violação aos acordos EUA-China, iniciados por Nixon/Kissinger e completados pelo governo de Jimmy Carter, Trump manteve conversa telefônica com a presidenta Tsai logo após sua vitória e vem assinando acordos de armamento de Taiwan, como forma de pressionar Pequim, para que se renda na guerra comercial, cujo objetivo de fundo é abrir a China aos potentados de Wall Street e deter o programa chinês de domínio da tecnologia de ponta em curso. Também está violando esses acordos criando vínculos oficiais antes inexistentes.
No governo anterior do Kuomitang, encabeçado por Ma Ying-jeou, que durou de 2008 a 2016, as relações entre os dois lados do estreito avançaram muito. A ficção de que Taiwan é um país e não uma província ainda não reunificada da milenar China atualmente só é sustentada por 17 dos mais de 190 países do mundo, mesmo com todas as pressões de Washington.
Nas eleições, plebiscito sobre a denominação da ilha nas competições internacionais, se “Taiwan” – como queria o DPP – ou a fórmula em vigor desde 1981 “Taipé China”, não obteve o quorum de 25%, embora a manutenção do “Taipé China” tenha vencido.