Representando a “combinação entre companheiros da cidade e do campo”, os ex-ministros Luis Arce Catacora, da Economia, e David Choquehuanca, das Relações Exteriores, são os candidatos escolhidos pelo Movimento Ao Socialismo (MAS) à presidência e à vice-presidência da Bolívia nas eleições do próximo dia 3 de maio.
O ex-chanceler Diego Pary e o líder cocaleiro Andrónico Rodríguez também compuseram a lista definitiva de quatro pré-candidatos. Outros nomes também fizeram parte do debate como a ex-presidenta do Senado, Adriana Salvatierra, o senador José Gonzales e o ex-ministro da Justiça, Héctor Arce. “Dirigente sociais me pediram para perguntar por eles, mas se decidiu por consenso que nenhum fosse candidato”, declarou o ex-presidente Evo Morales.
Vítima da feroz repressão desencadeada pela ditadura de Jeanine Áñez, “por motivos de segurança” o combativo jovem cocaleiro não conseguiu sequer chegar a Buenos Aires, capital argentina, onde ocorreu a reunião. “Andrónico tem um processo aberto contra ele porque na Bolívia levantar a voz contra a ditadura é sedição, é ser terrorista”, explicou Evo, deposto por um golpe no ano passado após ter sido reeleito por maioria de votos.
“Novamente vamos ganhar no primeiro turno”, reiterou o ex-presidente que, aglutinando o conjunto de forças nacionalistas contra a ingerência estadunidense, coordenará desde o exílio na Argenta campanha do MAS. “Em 20 de outubro ganhamos no primeiro turno e lamentavelmente nos roubaram”, recordou.
Foram oito horas de debate para chegar a um consenso entre os pré-candidatos presidenciais, a executiva do MAS e lideranças sociais e sindicais.
“Não foi simples porque foi um debate de conteúdo ideológico, programático e econômico”, ponderou o ex-presidente.
Na avaliação de Evo, a dupla Arce-Choquehuanca já demonstrou a que veio. “Bolívia foi o primeiro país em crescimento econômico na região. Arce é a garantia de diversificação do aparelho produtivo”, lembrou sobre o ministro de Economia e Finanças Públicas entre 2006 e 2017, e janeiro e novembro de 2019. Em relação a Choquehuanca, o coordenador de campanha do MAS recordou que é um “irmão doutorado em temas da mãe terra”, chanceler de 2006 a 2017 e que assumiu a partir de então a secretaria geral da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA.
Segundo Evo é uma unidade para avançar: “Vamos demonstrar que outro mundo sem capitalismo e sem Fundo Monetário Internacional (FMI) é possível. Logo vamos recuperar a democracia. Logo vamos voltar à Bolívia”.
Ao encerrar a apresentação da fórmula presidencial, Evo se levantou da cadeira e gritou: “Que viva Bolívia! Venceremos!”. Ao que a delegação boliviana presente respondeu: “se sente, se sente, Arce presidente!”
DERROTAR O NEOLIBERALISMO
Na última entrevista exclusiva dada ao HP, em La Paz, poucos dias antes do golpe, Arce registrou que a lógica do modelo adotado pelo seu partido, o MAS, é “completamente contrária à neoliberal”, uma vez que está focada “principalmente no crescimento do mercado interno, na melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Luis Arce assegurou que foi a construção de bases econômicas sólidas o que permitiu avanços sociais extremamente importantes, como o da geração e elevação de renda, da diminuição da taxa de desemprego – de mais de 8% para 4% -, de eliminação do analfabetismo e redução da diferença entre ricos e pobres de 128 para 40 vezes. Para o então ministro, as eleições refletiam uma decisão “entre continuar com este processo de industrialização, para gerar empregos e fontes de renda diversificadas, ou retornar ao passado neoliberal, quando tivemos experiências como as do senhor Macri na Argentina, de Bolsonaro no Brasil e Lenin Moreno no Equador”.