O pastor bolsonarista Silas Malafaia publicou um vídeo em seu perfil no Instagram, na quarta-feira (24), em que chama Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “desgraçado que rasga a Constituição”, só porque o ministro está cumprindo com seu dever.
Moraes também assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no último dia 16 e vai comandar o processo eleitoral deste ano.
O pastor também atacou o inquérito das fake news, alegando que a investigação é uma “aberração”. Malafaia disparou que o inquérito “é uma aberração que mancha o Judiciário”, repetiu que Moraes “rasga a Constituição” e perguntou “quem vai parar esse desgraçado”.
O inquérito das fake news, que corre no Supremo sob a relatoria de Alexandre de Moraes, apura a difusão de notícias falsas para atacar ministros da Corte.
Jair Bolsonaro passou a fazer parte da investigação depois de divulgar informações inverídicas sobre o processo eleitoral brasileiro em uma transmissão na internet.
A fala do pastor, que é ilustrada com card verde e amarelo com os dizeres “7 de setembro todo o povo nas ruas!”, sugere que o evento deste ano no Rio de Janeiro, com a presença de Bolsonaro e Silas Malafaia no palanque, pode ganhar, de novo, contornos de uma manifestação de confronto com o TSE e de ataque ao sistema eleitoral.
O militante político, Silas Malafaia, está na contramão de outros pastores evangélicos que criticam o uso da religião para objetivos obscuros.
Para o pastor Levi Araújo, da Igreja Batista, há uma “maligna mistura da religião evangélica com o bolsonarismo”.
“Não há nada mais perigoso para as conquistas civilizatórias do que essa maligna mistura da religião evangélica com o bolsonarismo. Um líder espiritual tem o direito de não abrir ou abrir o seu voto, mas jamais de impor o seu voto ou de manipular os seus seguidores para em nome do seu Deus votarem em quem ele vota”, criticou.
Lideranças de diferentes ramificações protestantes criticaram o uso da religião na campanha eleitoral de 2022. Na visão dos pastores, a promoção do bolsonarismo dentro dos templos e o discurso do medo que a mudança de governo causaria a perseguição dos evangélicos são prejudiciais para a boa fé e manipulam a opinião do povo.
A pastora Romi Bencke, da Igreja Luterana, considera que a mistura de tradições evangélicas e a política partidária deve ser vista com “muita preocupação”.
“A mistura, durante a campanha eleitoral, entre expressões de tradições evangélicas e a política partidária é péssima tanto para a fé evangélica quanto para a qualidade do debate político. Uma campanha político-eleitoral deveria centrar-se em projetos para o país. Não nos faltam problemas para resolver, sendo que o mais grave é a desigualdade econômica. A partir do momento em que colocam Deus e o Diabo como tema de campanha eleitoral, os assuntos que realmente importam tornam-se secundários, quando não invisibilizados. É claro que a fé, seja ela cristã ou não, tem uma dimensão política. No entanto, esta dimensão tem relação com a coletividade, com o bem comum. A Igreja não é partido político e nem deve ser. A simbiose entre igrejas e partidos políticos precisa ser considerada como um dos principais aspectos de reforma do atual sistema político”, disse.
Liderança da Igreja Pentecostal, o pastor Eliel Batista, considera que “não existe posicionamento apolítico, porque não existe nenhuma sociedade ou vida comunitária que não seja política. Entretanto, o uso da religião para disputa de poder eleitoral é extremamente prejudicial para a fé e uma manipulação da boa-fé do povo, porque esse uso entra numa guerra que não lhe pertence, leva as pessoas a cometerem perversidades em nome de defender um candidato específico e muitos se perdem do caminho, abandonando verdades que abraçaram quando adotaram a fé cristã”.
Para o pastor Nilson Gomes, da Assembleia de Deus, “a igreja não é uma agremiação política partidária e, em hipótese alguma, pode se tornar fiadora de qualquer candidato, partido ou ideologia política”.
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