“Apresentamos nossas demandas. Como a nossa região é de mineração, o pastor pediu um quilo de ouro para liberar a verba”, disse o prefeito de Luis Domingues (MA), Giberto Braga (PSDB)
O prefeito de Luis Domingues (MA), Giberto Braga (PSDB), denunciou, nesta quarta-feira (23), que um dos pastores ligados a Jair Bolsonaro envolvidos na manipulação ilegal de verbas federais do Ministério da Educação, pediu 1 kg de ouro (equivalente a R$ 308.050) para liberar os recursos para obras no setor de educação para a cidade. O episódio foi revelado pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Giberto Braga esteve em Brasília no dia 15 de abril de 2021 para participar de um evento no MEC com a presença de diversos prefeitos. Na solenidade, os pastores ocuparam posição de destaque na solenidade, com assento ao lado do ministro. Na sequência, os pastores convidaram os gestores para um almoço no restaurante Tia Zélia, também em Brasília, de acordo com outras pessoas presentes.. A solicitação de propina em ouro foi feita no local.
Ouça a entrevista do prefeito ao Estadão, onde ele fala da propina
O prefeito relatou que o pastor pediu um valor de R$ 15 mil, segundo ele para cobrir custos de protocolo. “Depois, quando o valor fosse liberado, seria paga uma quantia X”, disse o prefeito, explicando que, como a sua região é uma área de mineração, o pastor pediu um quilo de ouro. “Eu não aceitei. Ele disse que sem os R$ 15 mil não seria protocolado. “Como eu não transferi o dinheiro, não foi protocolado”, afirmou o prefeito, em entrevista ao Estadão.
O pedido de ouro em troca de liberações de recursos foi feito pelo pastor Arilton Moura, segundo o prefeito. Os dois pastores, Arilton Moura e Gilmar Santos são os negociadores da distribuição dos recursos da Educação pelo menos desde janeiro de 2021, apesar de não serem funcionários do governo. São eles que determinam quem recebe recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia.
Veja a atuação ilegal dos pastores junto ao Ministério da Educação
Os recursos negociados pelos pastores são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão ligado ao MEC. O fundo concentra os recursos federais destinados a transferências para municípios. Registros dão conta de que, quando intermediada pelos pastores, as verbas levam poucos dias para serem empenhadas.
Este é mais um desdobramento do escândalo dos áudios divulgados pela Folha de S. Paulo, na segunda-feira (21), em que o ministro da Educação Milton Ribeiro aparece confessando que Bolsonaro fez um pedido especial a ele para que a pasta liberasse verbas de acordo com indicação dos dois pastores. Na reunião dentro do MEC, em que o áudio foi gravado, Ribeiro falava sobre o orçamento da pasta, cortes de recursos da educação e a liberação de dinheiro para essas obras na presença de prefeitos, lideranças do FNDE e dos pastores Gilmar e Arilton.
Ouça o áudio onde o Ministro da Educação fala do pedido de Bolsonaro
“A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, disse Milton Ribeiro no áudio divulgado pela Folha. “Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, continuou o ministro. Arilton Moura e Gilmar Santos estavam presentes na reunião onde Milton Ribeiro explica como a verba pode ser liberada.
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