O pastor Arilton Moura, que cobrou R$ 100 mil de propina de um empresário, esteve no hotel Grand Bittar, em Brasília, 63 vezes desde 2020, enquanto Luciano Musse, que foi nomeado para um cargo no MEC, se hospedou 29 vezes
A Polícia Federal descobriu que o pastor Arilton Moura, que organizava o “gabinete paralelo” da Educação, e o ex-gerente de Projetos da Secretaria Executiva do Ministério, Luciano Musse, se hospedaram no hotel que era a “sede” da corrupção em datas coincidentes pelo menos dez vezes.
Arilton Moura esteve no hotel Grand Bittar, em Brasília, 63 vezes desde 2020, enquanto Luciano Musse se hospedou 29 vezes. As datas coincidem em pelo menos 10 situações.
Os dados foram obtidos pela Polícia Federal, no âmbito da investigação sobre o “gabinete paralelo” do Ministério da Educação, na análise dos registros do hotel.
QUARTEL GENERAL DA ROUBALHEIRA
O hotel Grand Bittar era usado pelo grupo dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, que foi quem apresentou Luciano Musse para o Ministério da Educação, como “quartel general” dos crimes que cometiam.
O grupo tinha apoio de Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Milton Ribeiro. Em uma gravação, Ribeiro admite que atendia as demandas dos pastores por conta de um “pedido especial” vindo de Jair Bolsonaro.
De acordo com as investigações, as hospedagens do grupo criminoso no hotel Grand Bittar começaram em 2020, um mês depois da nomeação de Milton Ribeiro para o Ministério.
Em 2020, Arilton Moura se hospedou 15 vezes. Em 2021, foram registradas 38 hospedagens para Arilton Moura, uma para Gilmar Santos e 24 para Luciano Musse. Em 2022, Arilton Moura ficou lá por mais 10 vezes, enquanto Luciano ficou por 5.
O grupo parou de se hospedar no Grand Bittar em março de 2022, depois do esquema ter sido descoberto.
Arilton Moura e Gilmar Santos exigiam o pagamento de propina para que os prefeitos conseguissem a liberação de verbas do Ministério da Educação para seus municípios. Segundo a PF, os dois “cooptaram prefeitos para interesses pessoais”, enquanto Luciano Musse, com cargo no MEC, ocupava papel de “operador financeiro”.
Milton Ribeiro, Luciano Musse e os pastores Arilton e Gilmar chegaram a ser presos pela Polícia Federal, mas foram liberados por decisão judicial.
O relato do empresário Edvaldo Brito à Controladoria-Geral da União (CGU) confirma que o hotel Grand Bittar era usado como “sede” do grupo criminoso. “Uma pessoa me indicou que procurasse os pastores no hotel, e fui lá. Depois é que o Arilton falou do trabalho da igreja e pediu uma doação missionária”, narrou.
Edvaldo Brito transferiu, através de terceiros, R$ 67 mil e pagou mais R$ 23,9 mil em passagens áreas para que grupo dos pastores que atuavam no Ministério da Educação organizassem um evento com Milton Ribeiro em Nova Odessa (SP).
BOLSONARO INTERFERIU NAS INVESTIGAÇÕES
O delegado responsável pela investigação sobre o esquema de corrupção no Ministério da Educação, Bruno Calandrini, denunciou tentativas de “interferência” para atrapalhar a apuração dos fatos.
Calandrini apontou que a decisão judicial que permitiu a prisão preventiva do grupo criminoso exigia a transferência de Milton Ribeiro para o Distrito Federal, mas isso não aconteceu por deliberação de seus superiores, que decidiram não cumprir o que mandou o juiz federal.
“O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”, afirmou Bruno Calandrini.
Além disso, Milton Ribeiro foi flagrado, em uma ligação com sua filha, dizendo que Jair Bolsonaro o avisou que a Polícia Federal iria realizar uma operação de busca e apreensão em sua residência.
“Hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe?”, disse Milton Ribeiro na ligação.
Quando sua filha deu o alerta de que está falando de um celular normal, Milton muda de assunto e responde: “Ah, é? Então depois a gente se fala”.
A coluna do jornalista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, também apurou que havia um plano para transferir o delegado Bruno Calandrini de área de investigações especiais da PF para a área de crimes cibernéticos para que a investigação do MEC fosse abalada.