O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), defendeu que “democracia é a regra do jogo”, “como a Constituição determina”, e sem ela vira “vale-tudo”.
“Eu entendo que o presidente Bolsonaro tenha as suas insatisfações com as regras do jogo numa democracia. Não é fácil, de fato, exercer um mandato num poder executivo. Você pode contestar e ter questionamentos às regras e até querer mudá-las”.
“Mas você tem que usar as regras do jogo, como a Constituição determina, para propor mudanças. Então, que se leve ao Congresso, dentro das regras constitucionais que nós temos, as propostas de mudanças, alterações que precisem ser feitas. Respeitando as regras do jogo, acho que isso é o mais importante de entender”, disse o governador em entrevista à Globonews, junto com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).
Eduardo Leite também criticou a falta de apoio do governo federal aos estados. “Nós recebemos, no início de junho, cerca de R$ 500 milhões no repasse do socorro emergencial da união, depois de termos perdido, entre abril e maio, mais de R$ 1,2 bilhão. Perdemos muito mais do que houve de socorro emergencial para o estado. É preciso que isso [o socorro] permaneça e vá além”.
“Não é socorro aos governadores, é apoio para o povo brasileiro, porque senão os estados deixam de conseguir prestar os seus serviços essenciais, desde segurança até a própria saúde para atender a população em função das dificuldades que tem”, enfatizou.
Ele acredita que “a postura que foi assumida pelo governo, na figura do presidente, de enfrentamento aos estados”, causou “prejuízos à boa interlocução”.
Leite também defendeu a prorrogação do auxílio emergencial de R$ 600 para a população. “O governo federal tem outros instrumentos para viabilizar um auxílio emergencial, como viabilizou com os R$ 600. É importante que se mantenha por mais alguns meses”.
O governador acredita que “a troca do ministro [da Saúde] e da equipe faz perder velocidade” no atendimento à população. “Você pode colocar um grande piloto, mas se ele não conhecer a pista sobre a qual ele vai ter que pilotar, vai andar com pouca velocidade até se apropriar das informações. Sem dúvida nenhuma, essas constantes trocas fizeram com que se perdesse velocidade”, avaliou.
PAULO CÂMARA
O governador Paulo Câmara também acredita que “o respeito às instituições tem que prevalecer na democracia”.
“Não dá pra gente ver fatos como os que vimos nas semanas passadas de claro confronto institucional, de ameaças veladas. Isso não faz bem à democracia, não faz bem ao Brasil e isso precisa ser devidamente combatido”, assinalou.
Nas últimas semanas, grupos bolsonaristas, como o “300 do Brasil”, realizaram manifestações golpistas pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional e passaram para ameaças mais diretas, como lançar fogos de artifício contra o prédio do STF.
Paulo Câmara afirmou que “a população viu que não se pode viver de brigas. O Brasil está em uma tensão permanente desde o início do governo Bolsonaro. De governar com bravatas, de desviar do que tem que ser o foco de um governo. Eu entendo que esticaram muito a corda. A sociedade reagiu, as instituições se posicionaram”, disse.
“A gente agora tem que buscar a pacificação. Espero que tenha iniciado. É preciso muita maturidade para saber valorizar e ver os ensinamentos de todo esse processo que nós vivemos e buscar reagir no meio de uma pandemia”.
“Eu espero que o governo federal tenha visto esses sinais de sua omissão, de sua negação de um processo tão sério e que tem resultado na perda de tantas vidas”, acrescentou. “Eu espero que haja pelo governo federal a capacidade de governar esse país”.
Paulo Câmara disse que é possível que os recentes andamentos das investigações sobre sua família tenham feito Bolsonaro diminuir os ataques.
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro que centralizava o esquema de “rachadinha” no gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), foi encontrado na chácara o advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia (SP).
“Esses fatos devem estar preocupando diante da ausência de informações e transparência desse processo. Nós não temos as informações para saber se isso é ou não a questão para o que vimos na última semana”.
“Questões como essas, esses casos, precisam ser apurados devidamente dentro da institucionalidade, com o Ministério Público fazendo o seu papel, a Justiça fazendo seu papel. Espero que tudo seja feito da forma correta, democrática, respeitando as instituições”, apontou.
O governador criticou a falta de coordenação nacional na compra de equipamentos e medicamentos internacionalmente. “Negócios com a china têm que ter pagamento adiantado. Às vezes o produto era adequado e quando você ia fechar o negócio, já tinha sido vendido para outro, isso em um espaço de 24h”.
“Ficou uma guerra selvagem atrás de equipamento vital para salvar vidas. Se nós tivéssemos uma coordenação nesse processo, com certeza teríamos evitado muita coisa que vários estados enfrentaram. Agora estamos vendo a mesma coisa com a questão do medicamento, que hoje estão faltando”.
“O Fórum dos governadores solicitou que o governo fizesse uma coordenação disso, fizesse as ações visando comprar. Não estamos nem falando de pagamento, os estados pagam pelos medicamentos, não tem problema. Precisa ter uma coordenação”, concluiu.