“O Brasil é uma democracia muito jovem, não pode ter retrocessos, vamos ser uma voz contra qualquer tipo de retrocesso”, afirmou o governador Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco.
“A gente tem que participar do debate, aceitar o contraditório, tem que ouvir, mas preservar valores básicos”, enfatizou.
O governador igualmente repeliu quaisquer ações que provoquem aumento das desigualdades sociais:
“O povo pernambucano sabe o que quer e o que não quer. Temos posições que são importantes para o desenvolvimento do nosso Estado, que envolvem a questão das desigualdades regionais e sociais. Não vamos aceitar medidas que possam contribuir para o aprofundamento dessas desigualdades. Estaremos sempre muito vigilantes”.
Paulo Câmara opinou que o seu partido deve insistir na negociação para manter a unidade do bloco formado com o PDT e o PCdoB na eleição da presidência da Câmara dos Deputados:
“O PSB tem que insistir em uma solução que mantenha a unidade desse bloco. Enquanto ainda tiver tempo e possibilidade de discussão, não vamos esgotar. A eleição é no dia 1º. Vamos trabalhar para, até o dia 31, ter um formato que seja bom para todos”.
O PCdoB e o PDT já anunciaram apoio a Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da Câmara. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que a legenda não deve apoiar Maia.
O governador pernambucano rejeitou as críticas que os adeptos do ajuste fiscal lhe fazem por não adotar uma política de asfixiar o desenvolvimento, diminuindo gastos com servidores, como outros Estados vêm fazendo.
“Não poderia ver o que estava acontecendo na segurança – e não contratar policiais militares. Não posso ter a melhor educação pública do ensino médio sem contratar professor. Não ver que 200 mil pernambucanos perderam seus planos de saúde – e não contratar médicos. Nosso aumento de gastos com pessoal foi nessas três áreas. É um valor que vamos continuar, com equilíbrio”.
“Lógico que não vai ter desperdício, mas o serviço tem que melhorar. Dentro dos limites legais, não vou deixar de contratar pessoal, para diminuir limite [de gastos com pessoal] ou diminuir despesa para fazer obra”.
Quanto a um plano de privatizações, particularmente da Copergás, Paulo Câmara descartou: “Não. O Estado tem o controle administrativo da Copergás, mas só tem 17% das ações, então seria um valor pequeno. E a Copergás ainda tem um valor social a ser feito. A gente ainda tem que levar gás a muitas áreas e muitas vezes, no olhar do investidor privado, isso não garante lucro imediato. A empresa ainda é estratégica para o desenvolvimento do Estado. Não vejo nenhum ativo de Pernambuco, que possa ser posto à venda. Copergás não, água (Compesa) muito menos”.
Paulo Câmara defendeu os incentivos fiscais da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia):
“É o último estímulo que resta, de atração de investimento federal porque nossa região tem atrasos estruturais, logísticos e de infraestrutura. É muito difícil o investidor querer implantar uma indústria aqui no Nordeste se não tem algum tipo de compensação. Enquanto houver esse conjunto de desigualdades, temos que utilizar esses instrumentos. Por isso o esforço perante o Congresso para aprovar a prorrogação dos benefícios. Esperamos que os que estão em andamento continuem e que novos possam acontecer. Esses benefícios já existem, portanto já não existia essa receita. O que está colocado é a continuidade desses instrumentos. Isso não afeta em um primeiro momento nada em termos de caixa do governo, pois o benefício já existia. É importante para o Brasil retomar o crescimento, não apenas para o Nordeste”.
O governador quer que as obras de transposição do Rio São Francisco sejam finalizadas, por causa da sua importância para a população nessas áreas.
“A transposição não é só o canal, mas as adutoras e os ramais para que a água chegue de fato na casa das pessoas. Há uma série de compromissos do governo federal aqui em Pernambuco que precisam ser feitos. Tem 60 municípios que podem se beneficiar das obras da transposição. As obras que foram feitas até agora beneficiam só 20”, disse Paulo Câmara.
Ele falou ainda do sucesso do Estado no combate à violência que conseguiu reduzir em 23% o número de homicídios em 2018.
“O Pacto pela Vida foi instituído em 2007 e tivemos 7 anos de muito êxito. Pernambuco foi o único Estado do Brasil que de 2007 a 2013 reduziu todo ano a violência. Em 2014, ela voltou a crescer por vários fatores. Tivemos uma greve da polícia e greve é uma questão que é muito cara porque provoca uma quebra de princípios básicos dentro de uma estrutura militar: a disciplina e a hierarquia. A retomada não é automática. Além disso, Pernambuco talvez tenha sido o Estado onde a taxa de desemprego tenha aumentado mais na crise a partir de 2015. Isso levou mais vulnerabilidade nas áreas sociais, que se somou ao da violência em todo o Brasil. Tivemos que nos adaptar”.
“Em 2017, fizemos o maior investimento da história da segurança pública em Pernambuco e os fluxos estão vindo agora. Não temos nenhuma pretensão de dizer que as coisas estão resolvidas, pelo contrário, estão longe disso. Mas construímos um caminho. São 13 meses de redução dos homicídios, isso é consistente. Temos uma média de mais de 50% de resolução dos assassinatos. A média nacional é 8%. A retomada da economia ajuda no entorno. Criamos uma secretaria específica de prevenção e combate às drogas. A parte de repressão foi restabelecida, estamos prendendo mais, faz parte do jogo. Agora estamos preparando a parte de ressocialização”, completou.
Sobre o decreto de Bolsonaro que facilita a posse de armas, Paulo Câmara afirmou que “qualquer medida que possa fazer com que mais armas de fogo circulem, é prejudicial à segurança pública”.
“Essa é uma discussão muito aquém do que se precisa. Temos questões como tráfico de drogas, de armas, o controle das fronteiras. A discussão primeiro deveria ser num nível maior, para depois entrar em detalhes como posse ou não”.
Apesar de considerar que as despesas com a previdência dos funcionários estaduais são pesadas (“Pernambuco gastou em torno de R$ 2,5 bi para dar equilíbrio ao sistema”), o governador considerou que “a discussão feita lá atrás foi muito ruim. O governo impôs uma reforma da Previdência que afetava aposentadorias rurais, justamente o povo mais pobre, afetava o BPC (Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social à Pessoa com Deficiência), além de ter outras questões muito mal desenhadas. Daquela forma, não dá”.
Em sua opinião, um tema como a Previdência “não pode ser aprovado a toque de caixa. Tem que ter o rito da discussão. Não pode ser tudo em cima do mais vulnerável, do que começa a trabalhar mais cedo, aos 17, 18, 16 anos. Tem que olhar as peculiaridades do Brasil, que é muito grande. Não pode achar que pode ter fórmulas iguais para todo o Brasil. Tem que olhar o que acontece em cada região e ver como cada região pode contribuir”.
As declarações do governador foram dadas em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada na sexta-feira (18/01).
Paulo Câmara foi reeleito no primeiro turno com 1.918.219 votos, 50,7% dos votos válidos, vencendo Armando Monteiro (PTB), que obteve 1.361.588, ou 35,99%, ficando em segundo lugar. Sua vice-governadora é Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB.