O ex-diretor da Dersa (estatal paulista de rodovias), Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e operador de propinas do PSDB, recebeu a Polícia Federal em sua casa, no mês de fevereiro, praticamente pelado. Ele estaria somente de camisa e com uma viseira na testa.
A revelação foi feita pelo escrivão da PF, Mario Nunes Guimarães Júnior, durante depoimento na quinta-feira (13) ao juiz Luiz Antonio Bonat, da Operação Lava Jato, como testemunha de acusação em ação penal contra o tucano.
“A gente acionou a campainha e demoraram para atender. Quando ouve a voz de alguém, disse que, pediu para aguardar um pouco, pois eles precisavam trocar de roupa. Levou de 3 a 5 minutos essa demora e quando retornou veio Paulo Vieira quase totalmente pelado, somente de camisa e uma viseira na testa para atender”, contou.
Segundo o escrivão, o fato aumentou a suspeita de que haveria um celular escondido no imóvel, pois Paulo Preto demorou a abrir a porta com a justificativa de que “iria se arrumar”. Mario Nunes relatou que, na busca e apreensão, a PF encontrou “dezenas de cabos USB de carregamento de celulares já devidamente conectados em fontes de carregadores” e um relógio do tipo Apple Watch sincronizado a um telefone.
“A quantidade de carregadores e pela demora que ele nos fez passar na entrada dando a entender que ele estava dando tempo de fazer algo. Ele disse que iria se arrumar e veio pelado, totalmente pelado para atender a porta. Essa desculpa de dizer que foi se arrumar não tem cabimento”, observou o escrivão.
O agente Rodrigo Prado Perreira, que também depôs como testemunha de acusação, relatou que o Appel Watch estava sincronizado com um telefone.
“A gente olhando o relógio tinha as últimas ligações feitas de um telefone, tinha agenda telefônica, porque ele faz o emparelhamento. Quando a gente pede para o relógio ligar, fazer uma ligação, como o aparelho telefônico está longe, ele não conseguia fazer. Ou ele estava desligado ou ele estava muito longe do lugar”, contou.
De acordo com o agente da PF, a busca no apartamento foi “muito insistente”. “A gente perguntava se tinha mais dinheiro, dizia que não tinha. A gente procedia revista na residência e achava mais dinheiro. Acho que tiveram seis momentos em que a gente foi achando dinheiro até que chegou no limite estipulado para a busca e apreensão”.
“Tinha um pouco de dinheiro no cofre, tinha dinheiro numa mochila escondida num dos quartos que aparentemente era um escritório, tinha dinheiro escondido numa mochila que estava num corredorzinho que dava para a cozinha, como se fosse um corredorzinho de acesso de serviço. Foram diversos lugares assim”, acrescentou.
Paulo Vieira de Souza é investigado por lavagem de dinheiro no esquema de propinas da Odebrecht. O Ministério Público Federal afirma que o ex-diretor da Dersa disponibilizou, a partir do segundo semestre de 2010, R$ 100 milhões em espécie ao operador financeiro Adir Assad, no Brasil.
Em março, Luiz Antonio Bonat negou pedido de liberdade a Paulo Preto, amparado também nas suspeitas da PF de que o ex-diretor teria escondido celulares. Ele está preso preventivamente desde 19 de fevereiro pela 60ª fase da Lava Jato.
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