O ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado pela Operação Lava Jato como operador financeiro do PSDB, solicitou em sua defesa prévia na 13ª Vara Federal de Justiça em Curitiba a “nulidade das provas obtidas mediante cooperação jurídica internacional com a Suíça” e de todas “as demais provas oriundas delas”.
O pedido foi entregue pelos advogados de Paulo Preto ao juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Na ação do Ministério Público Federal do Paraná, ele é acusado de disponibilizar, a partir do segundo semestre de 2010, R$ 100 milhões em espécie ao operador financeiro Adir Assad.
Assad, por sua vez, entregou a quantia ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, de responsabilidade do doleiro Álvaro José Novis. Ele fazia pgamento de propinas a mando da empresa para diferentes agentes públicos e políticos, inclusive na Petrobrás.
A Procuradoria da República afirma ainda que Paulo Preto manteve R$ 131 milhões em quatro contas no banco Bordier & CIE, na Suiça, em nome da offshore panamenha Groupe Nantes AS, da qual ele é beneficiário econômico e controlador. As contas foram abertas em 2007 e duraram por 10 anos.
Na defesa prévia na ação entregue nesta segunda-feira (22), o operador financeiro pediu ao juiz da Lava Jato Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba, uma lista com 32 testemunhas de defesa na ação penal sobre lavagem de dinheiro no esquema de propinas da Odebrecht.
Os advogados de Paulo Preto também solicitaram a “nulidade das provas obtidas mediante a quebra do sigilo telemático da conta do ICloud do requerido, tendo em vista que seu pedido era carente de elementos que justificassem tão gravosa medida investigativa, bem como de todas as provas daí decorrentes”.
Através da quebra de sigilo de dados do iCloud (sistema de armazenamento em nuvem para usuários do Iphone), a força-tarefa da Operação Lava Jato descobriu a existência de um celular secreto do ex-diretor da Dersa que não havia sido localizado durante buscas em sua residência. O MPF identificou também mensagens enviadas por ele dias antes de ser preso pela investigação do Paraná em 19 de fevereiro.
A pedido do Ministério Público Federal, a Justiça quebrou o sigilo telemático da nuvem do iCloud de endereços eletrônicos de Paulo Preto. O resultado da quebra de sigilo apontou um número de telefone ligado a Vieira de Souza, usado ‘pelo menos, para a troca de mensagens através do aplicativo WhatsApp’.
A descoberta do celular secreto foi um dos elementos cruciais para o juiz Luiz Antonio Bonat manter a prisão preventiva de Paulo Vieira de Souza. A decisão do magistrado, em março, negou pedido de liberdade do ex-diretor.
Delta aponta pagamento de R$ 24 milhões a Paulo Preto
Helvétio Rocha, ex-gerente da empreiteira Delta declarou à Justiça ter destinado cerca de R$ 24 milhões em propina ao Paulo Preto, em razão das obras de ampliação da marginal Tietê em 2009. O ex-gerente da Delta firmou colaboração junto com outros executivos da empreiteira na parte da Lava Jato que tramita na Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Os repasses, segundo o ex-gerente, ocorreram tanto antes da licitação como durante a execução da obra em São Paulo a cargo do governo tucano de José Serra (PSDB). Ainda segundo o delator, ele próprio chegou a levar caixas de dinheiro na sede da Dersa.
A obra envolveu a criação de uma nova pista na marginal, ao longo de 22 km e ao custo de R$ 1,75 bilhão.
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas no último dia 12, Rocha disse que, antes da licitação, entregou até sete “caixas-box” —com volume equivalente a três caixas de sapato, segundo ele— no 10º andar da Dersa, onde Paulo Preto mantinha seu gabinete.
O executivo declarou que costumava ir à Dersa para buscar informações técnicas sobre a dificuldade da obra da marginal Tietê.
Disse que, antes da licitação, recebeu pedido de André Ferreira, ex-diretor da Delta em São Paulo, para entregar uma caixa com dinheiro no andar do gabinete de Paulo Preto.
“Nunca em mãos [do ex-diretor da Dersa]. Cada hora tinha uma pessoa [para receber]. Até porque eu queria me livrar daquilo”, disse Rocha, que calculou em aproximadamente R$ 7 milhões os pagamentos anteriores à obra.
Ele declarou que, depois do início das intervenções na marginal Tietê, recebeu Adir Assad, empresário que se disse em nome de Paulo Preto.
“Ele veio dizendo que havia um percentual em cima de cada medição que devia ser contratada a empresa Legend. Fui conseguir a confirmação com o doutor Paulo Souza, que confirmou”, disse Rocha.
Assad firmou acordo de colaboração premiada em que declara ter sido responsável por gerar dinheiro em espécie para diversas empreiteiras, entre elas a Delta, do empresário Fernando Cavendish. Apenas para a construtora, ele declarou ter fornecido R$ 370 milhões em papel-moeda.
O percentual cobrado por Assad para Paulo Preto, segundo Rocha, era de 6%. Pelos cálculos do executivo, entre R$ 16 milhões e R$ 17 milhões foram repassados ao ex-diretor da Dersa no decorrer da obra.
O ex-gerente da Delta declarou que o operador financeiro também gerou até R$ 21 milhões em dinheiro vivo para pagamento “por fora” de funcionários e prestadores de serviço.
Além de ser alvo da delação do ex-executivo da Delta na Justiça Federal do Rio e da denúncia em Curitiba, Paulo Preto já foi condenado em duas outras ações em São Paulo —em uma delas, a 145 anos de prisão, por desvios em reassentamentos do trecho sul do Rodoanel.