
Professores da Universidade de São Paulo (USP) assinaram em conjunto uma carta contra o massacre promovido na Palestina por Israel.
“Associar a defesa da causa palestina —o direito inalienável deste povo de viver em seu próprio território, respeitando todas as resoluções da ONU — ao antissemitismo e apoio ao terrorismo é operação sumamente desonesta e afronta aos direitos humanos’, afirmam os professores.
“Enquanto assistimos horrorizados à intolerável perda de milhares de vidas e ao enorme sofrimento do povo palestino, vemos com grande preocupação o assédio e a tentativa de silenciamento das opiniões divergentes que fazem parte do debate público”, apontam os professores.
A carta é assinada pelo professores: Paulo Sérgio Pinheiro, Professor de ciência política (FFLCH-USP) e ex-ministro de Direitos Humanos (governo FHC), Marilena Chaui, Professora emérita de filosofia (FFLCH-USP), Vladimir Safatle, Professor de filosofia (FFLCH-USP), Leda Paulani, Professora titular da Faculdade de Economia e Administração da USP, Carlos Augusto Calil, Professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Arlene Clemesha, Professora de história árabe (USP). O texto foi originalmente publicado no jornal “Folha de São Paulo”.
Eles ressaltam que não é aceitável, sob nenhum argumento, “a existência de um povo apátrida, vivendo segregado e em condições de um apartheid”. Menos aceitável é a “ausência de indignação internacional e de pressão institucional contra o governo israelense para que respeite a norma internacional, cumprindo as exigências da ONU sem subterfúgios”.
Os professores reforçam que qualquer análise honesta de como chegamos a esse ponto de violência extremada deve começar “lembrando que os palestinos que optaram por uma saída diplomática para o conflito com Israel foram traídos. A narrativa que não parta das razões do fracasso histórico dos acordos de Oslo e da total inação da comunidade internacional é falsa e enviesada. A falta de respeito a acordos internacionais de paz sempre produziu as piores consequências”.
“A tolerância da comunidade internacional com o desrespeito por Israel dos compromissos assumidos permitiu que ali se consolidasse um regime de apartheid contra os palestinos com o intuito de manter a dominação de um único grupo étnico e nacional. Não obstante 20% da população de Israel ser formada por palestinos, em 2018 foi aprovada a Lei Básica do Estado-Nação, afirmando que ‘o direito ao exercício da autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusivo ao povo judeu’. Consolidava-se, assim, um sistema de segregação e desigualdade institucionalizada por leis e políticas em toda a Palestina histórica”, frisam os professores da USP.
Para os docentes, neste momento, é incontornável “enfrentar corajosamente” o problema que afeta o mundo inteiro: “a paz no Oriente Médio depende do fim da ocupação ilegal dos territórios palestinos e do apartheid”.
“A circulação de discursos sobre a ‘enorme complexidade’ da situação é falaciosa e tem como objetivo ocultar a continuidade da limpeza étnica do povo palestino”.
Ainda de acordo com os professores da USP, a única resposta “à tal dissimulação da realidade é a exigência de que finalmente os direitos inalienáveis do povo palestino sejam respeitados por Israel com a devolução dos territórios da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental, da Faixa de Gaza e das colinas de Golã”.
“O sistema de segregação e discriminação contra o povo palestino, na sua própria terra, precisa dar lugar a um regime de respeito universal a todos que ali vivem. Somente o compromisso com a paz real, com soluções duradouras ancoradas no direito internacional e com o respeito à liberdade de expressão, pode produzir a consciência mundial capaz de eliminar as supremas injustiças a que os palestinos continuam submetidos. Caso contrário, como disse José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura: “Um dia se fará a história do sofrimento do povo palestino e ela será um monumento à indignidade e covardia dos povos”, ressaltam os docentes.