O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não citou a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, durante uma audiência, na manhã da quarta-feira (2), da comissão mista do Congresso Nacional que acompanha as ações do Ministério da Saúde em relação ao combate ao coronavírus.
Jair Bolsonaro já atacou a vacina diversas vezes, tanto por ser chinesa, quanto por ser apoiada pelo governo de São Paulo, liderado pelo governador João Doria (PSDB).
Segundo Pazuello, o Ministério da Saúde só está considerando “uma, duas ou três” vacinas, citando apenas o nome da AstraZeneca, porque as demais ficam “com números muito pequenos para o nosso país”.
Em outubro, Bolsonaro desautorizou o seu ministro da Saúde, que havia se comprometido com 24 governadores a comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, que está em fase final de testes. O presidente mandou cancelar o protocolo de intenções neste sentido.
O presidente usou suas redes sociais para mentir sobre a CoronaVac dizendo que ela causaria “morte, invalidez e anomalias”. Um ataque estúpido à vacina do Butantan.
Não satisfeito, Bolsonaro interferiu na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para interromper os testes com a CoronaVac no Brasil. Baseou-se na ocorrência de um evento ocorrido com um dos participantes dos testes que não tinha nenhuma relação com o uso da vacina. Desmascarados, tanto ele, quanto a Anvisa, tiveram que recuar.
O ministro disse que até fevereiro o Brasil terá 15 milhões de doses e até o final do primeiro semestre serão 100 milhões. No segundo semestre, “já com a tecnologia transferida, podemos produzir com a Fiocruz até 160 milhões de doses a mais. Estamos falando de 140 milhões de doses já compradas, digamos assim, mais 160 milhões de doses sendo produzidas no segundo semestre, totalizando 300 milhões de doses de vacinas já acordadas e negociadas”.
“O grande diferencial da AstraZeneca e Oxford é que é preço de custo durante a pandemia. Então, o preço é US$ 3,75 por dose, é quase um terço a menos do que os preços médios das outras vacinas, chegando a ser a quase 8x a menos do que outras vacinas”, argumentou.
A eficácia da Astrazeneca tem sido questionada por especialistas depois que os resultados das pesquisas foram divulgados, mesmo que ainda não tenham sido publicados em revistas científicas. Eles também criticam a falta de transparência do laboratório nos dados sobre a vacina de Oxford.
A vacina apresentou eficácia de 62% no maior grupo, mas também chegou a 70% e 90% em outros.
Eduardo Pazuello disse ainda que “nós só aplicaremos vacinas no Brasil [que estejam] registradas na Anvisa e com todos os protocolos cumpridos da maneira correta”.
A própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está estudando liberar a aplicação de vacinas que ainda não estejam registradas.
Segundo o ministro, “nossa estratégia será a não obrigatoriedade da vacina, trabalhar com campanhas de conscientização, com disponibilidade em todas as pontas, e trabalhar pelo padrão da vacina, uma vacina campeã, com resultado, sem colaterais. Quando isso começar a dar resultado, a procura será muito grande e não a obrigatoriedade”.
“Estamos aguardando a posição do STF [Supremo Tribunal Federal], que vai fazer o julgamento da obrigatoriedade. Nós vamos nos defender, apresentar nossas ideias e os juízes vão definir”.
O STF vai julgar, ainda em dezembro, duas ações sobre a competência dos estados e municípios para garantir a obrigatoriedade da vacina.
Por fim, o ministro de Jair Bolsonaro comentou sobre os 6,8 milhões de testes para Covid-19 com validade até dezembro que o governo Bolsonaro deixou de distribuir. Segundo Pazuello, o Ministério já pediu para a Anvisa para que o prazo, estipulado pela Agência, seja postergado e disse que os testes não serão desperdiçados.