“Urge rememorar ao presidente da República que sua agenda é pública”, diz um trecho da ação. Questionado sobre o motivo do sigilo, Bolsonaro respondeu de forma cínica: “espere 100 anos para saber”, disse
O PDT entrou com uma representação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que o Planalto seja obrigado a revelar dados de visitas de pastores ao Palácio do Planalto. Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, denunciados por cobrarem propina para liberação de verbas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), estiveram dezenas de vezes reunidos com Jair Bolsonaro no Planalto.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, dirigido por Augusto Heleno, se recusou a liberar as informações das datas de entradas e saídas dos dois pastores no Planalto, solicitadas pela imprensa, alegando questões de segurança. O sigilo imposto à agenda do Planalto é considerado irregular até mesmo pela Controladoria Geral da União (CGU), órgão de fiscalização do próprio governo.
Parecer da CGU de 7 de maio de 2021, em resposta a um pedido semelhante, dizia que “os registros de ingresso de pessoas, nos órgãos públicos têm também um papel relevante no controle social, pois os dados têm o potencial de indicar os contatos e as agendas das autoridades públicas, bem como de prevenir eventual conflito de interesse”.
Na representação, o PDT afirma que o sigilo das idas dos pastores ao Planalto esconde a “existência de algo obsceno, que está por trás da cena”. “Urge rememorar ao presidente da República que sua agenda é pública, na medida em que exerce labor destinado à consecução das diretrizes traçadas pela Constituição, que foi batizada sob forte influência dos ares democráticos. O sigilo revela a existência de algo obsceno, que está por trás da cena, e ostenta potencial para estontear os aspectos de normalidade e publicidade inerentes à condução dos assuntos de interesse coletivo”, afirmou o partido.
O problema surgiu depois que os pastores ligados a Bolsonaro foram denunciados por vários prefeitos de estarem exigindo propina para liberar os recursos do FNDE, mesmo não sendo eles funcionários do Ministério. Numa áudio vazado em março de uma reunião no MEC, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, aparece dizendo que a atuação ilegal dos pastores no órgão era um pedido direto do presidente da República. Logo em seguida vieram as denúncias dos prefeitos relatando como agiam os dois pastores.
No dia 25 de março, depois de virem à tona as denúncias sobre a atuação dos pastores, a TV Globo pediu ao Palácio do Planalto os registros de entrada e saída de Arilton Moura e Gilmar Santos. Pediu ainda informações sobre Nely Jardim, apontada por prefeitos como assessora dos pastores. Os jornais tomaram como base a llei de acesso à informação. Ao chegar ao Planalto, todo visitante deve se identificar, apresentar documentos e apontar o seu destino. As entradas, normalmente, precisam ser autorizadas pelos responsáveis pela área que será visitada. Tudo isso é de interesse público.
O governo, alegando questão de segurança, se negou a fornecer informações solicitadas por jornalistas sobre as idas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura à sede do Executivo federal. O Gabinete de Segurança Institucional apresentou um parecer alegando que não pode fornecer a informação solicitada pelo jornal. “Do exposto, fica clara a impossibilidade do fornecimento dos dados pessoais solicitados para outros fins que não a segurança na Presidência da República”, afirma a resposta oficial ao pedido.
Como afirma o PDT, a proibição aponta para “algo obsceno”, já que visitas de pastores – 19 ao todo, só de Arilton Moura – não podem provocar ameaças às segurança do governo. O que será que Bolsonaro conversou com os pastores para que o tema mereça ser mantido em sigilo? Questionado por um cidadão, Bolsonaro respondeu cinicamente: “espere 100 anos para saber”, revelando a forma com que o chefe do Executivo trata as denúncias de corrupção em seu governo.
O escândalo começou com o vazamento de um áudio com a fala do ministro mostrando a existência de um gabinete paralelo no Ministério da Educação, comandado pelos pastores de Bolsonaro. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o ministro na reunião, que ocorreu dentro da pasta. Ribeiro tentou negar a atuação ilegal dos pastores, mas, logo em seguida surgiram as denúncias dos prefeitos sobre os pedidos de propina. Aí, o ministro caiu.
Ouça o áudio em que o ministro Milton Ribeiro diz que foi Bolsonaro que indicou os pastores propineiros
Depois que o áudio veio à público, dez prefeitos relataram a presença dos pastores nas reuniões para definir a liberação das verbas do FNDE. Segundo os prefeitos, eram eles que mandavam nas verbas. Três prefeitos denunciaram formalmente a cobrança de propina pelos dois pastores.
O prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, contou que Arilton pediu R$ 15 mil para que a demanda fosse registrada no Ministério da Educação e um quilo de ouro, que vale mais de R$ 300 mil, para que a verba fosse destinada para sua cidade. “Ele [Arilton] disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar [a demanda no MEC]. E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”.
O prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, relatou que o pastor Arilton disse que faria um “desconto” na propina. “(Arilton) falou: ‘vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil’”, disse.
Kelton Pinheiro contou ao Estadão que Arilton Moura também propôs ainda uma contribuição para a igreja. “Se você quiser contribuir com a minha igreja, que eu estou construindo, faz uma oferta para mim, uma oferta para a igreja. Você vai comprar mil bíblias, no valor de R$ 50, e você vai distribuir essas bíblias lá na sua cidade. Esse recurso eu quero usar para a construção da igreja”, disse o pastor, segundo o prefeito. “Fazendo isso, você vai me ajudar também a conseguir um recurso para você no Ministério.”
Kelton prosseguiu: “ele sentou do meu lado, em um dos lados da mesa e falou: ‘olha prefeito, eu vou ser direto com você. Tem lá um recurso para liberar com ministro, mas eu preciso de R$15 mil hoje’”, afirmou Arilton Moura, segundo o prefeito. “O discurso dele que ainda me deixou mais chateado foi: ‘eu preciso desse pagamento hoje, porque vocês políticos não têm palavra, vocês não cumprem com o que prometem. Depois eu coloco o recurso para você lá e você nem me paga’.”
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essa risada debochada, cínica e escancarada é o troco que esse psicopata e genocida dá a todo o povo, inclusive aos seus bovinos.