Repudiado pela população, o governo acaba com programas sociais permanentes, mantém arrocho salarial de servidores e tenta corromper alguns setores, mas só até a eleição. Isso é crime eleitoral, dizem especialistas
A devastação da economia, com os preços disparando e fora de controle, com mais de 10 milhões de desempregados, com a fome se espalhando e a inflação em alta já vinham causando um grande estrago e muita rejeição ao governo Bolsonaro. Agora, com a avalanche de denúncias de corrupção, com as propinas do MEC, a orgia com o “orçamento secreto” e a intromissão de Bolsonaro para tentar impedir as investigações, sua situação ficou ainda pior.
Neste quadro de desgoverno, com a população sofrendo agudamente a falta de recursos até para comer – são 33 milhões literalmente passando fome -, Bolsonaro, pressentindo a derrota nas urnas, resolveu passar por cima da lei eleitoral e baixou uma PEC que não podia ter outro nome senão “PEC do desespero”. O governo, com esta atitude, só demonstra o tamanho da sua paúra com as urnas, com a rejeição e com o repúdio crescente da população ao seu descaso.
SEM REAJUSTE DE SERVIDORES
Se dizendo sem dinheiro nos cofres públicos para reajustar os salários dos servidores diante da inflação de 12%, ou para garantir as verbas da Educação, para pelo menos manter abertas as universidades federais, ele resolveu se concentrar em algumas benesses dirigidas a determinados setores da sociedade que ele considera que seriam seus potenciais eleitores. Isso tem nome. Chama-se crime eleitoral.
A “PEC do desespero”, que vai só até a eleição, e acaba com os programas sociais permanentes, teve a inclusão de subsídios para a produção de etanol, elevou o Auxílio Brasil e o vale-gás bimestral e vai criar uma transferência de R$ 1.000,00 mensal para caminhoneiros autônomos. O pacote aprovado no Senado incluiu, ainda, R$ 2,5 bilhões para agradar taxistas profissionais.
A oposição, que não é e nem nunca foi contra que se reforcem a renda dos brasileiros, denuncia o caráter passageiro, eleitoreiro e oportunista da proposta de Bolsonaro. O pacote deve custar cerca de R$ 38 bilhões aos cofres públicos
“É evidente o desespero, é evidente a tentativa de passar por cima das regras eleitorais. E ele ainda tenta convencer que sua preocupação é com os mais pobres”, diz Melillo Diniz, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e do Portal Inteligência Política. “Mas como só agora o governo se deu conta dessa necessidade, a menos de cem dias da eleição?”, indagou o senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), que destacou que “foi o próprio governo que, em maio, encerrou o estado de emergência sanitária.” O desespero é tanto que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende burlar o regimento interno da Câmara para acelerar a tramitação da PEC, aprovada na quinta-feira (30) no Senado.
O POVO NÃO ESTÁ À VENDA, DIZ LULA
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta sexta-feira (1º), que Jair Bolsonaro (PL) subestima a população brasileira com a criação de novos benefícios sociais, a três meses do primeiro turno, que classifica como “eleitoreiros”. De acordo com o pré-candidato ao Palácio do Planalto, Bolsonaro “acha que pode comprar o povo. (…) Mas não vai”, declarou.
“Ele vai deixar a Presidência da República porque uma coisa chamada povo brasileiro, quase 150 milhões de eleitores, vão para urna dizer ‘chega’. O Brasil precisa de gente melhor, que fale em amor, paz, solidariedade e fraternidade. (Precisa) de alguém que conheça a palavra carinho e compaixão. E não uma pessoa que só vende ódio, só instiga ódio e divergências”, emendou Lula.
A atitude de Bolsonaro é claramente ilegal, criminosa e afronta a lei eleitoral do país. Ele passou todo o seu governo cortando verbas sociais e arrochando salários. Não se pode criar esses programas em véspera de eleição. Mas, Bolsonaro não respeita a legislação que normatiza a conduta dos candidatos nas eleições brasileiras. Ele atropela tudo para tentar fraudar a eleição e impedir sua derrota em outubro.
O oportunismo é tão evidente que tudo o que ele apresenta, como aumento do auxílio emergencial e do vale caminhoneiro, por exemplo, tem data marcada para acabar, ou seja, logo depois das eleições.
BOLSONARO NÃO GOVERNA E DEIXA PAÍS À DERIVA
Sem apresentar soluções para os graves problemas do país, o que ele faz é uma manobra tipicamente eleitoreira e em final de governo, que não se sustenta.
Está transformando programas sociais que estavam institucionalizados, isto é, que eram permanentes, como o Bolsa Família, em programas eleitorais transitórios. Ele dá benesses para alguns setores agora, durante poucos meses, para, logo em seguida, assim que passar a eleição, voltar com o arrocho e a miséria.
Senão vejamos. O vale caminhoneiro é só até a eleição, mas a política de dolarizar o preço da gasolina prossegue e a alta dos preços do diesel e da gasolina também. Nisso ele não mexe. E não mexe porque, como diz o ex-presidente Lula, tem o rabo preso com os poderosos, que estão ganhando muito dinheiro com esses preços abusivos.
O desespero de Bolsonaro é tamanho que ele e seus emissários no Congresso tentaram um cheque em branco total para ser preenchido pelos seus seguidores. O Planalto previa criar um chamado “estado de emergência” e, neste peculiar “estado de emergência”, não se aplicaria “qualquer vedação ou restrição em norma de qualquer natureza. Ou seja, o governo resolveu ir para o “tudo ou nada”, criando uma verdadeira orgia com o dinheiro público. Tudo para tentar se salvar da derrota. Um crime eleitoral dessas proporções, poucas vezes foi visto na história do Brasil.