Sob efeito dos juros elevados, 6,9 milhões de empresas estavam inadimplentes em maio
O Brasil já conta com um total de 1.014 pedidos de recuperação judicial de empresas (RJ), só no primeiro semestre de 2024. Este é o maior número para o período da série histórica do indicador de Falência e Recuperação Judicial da Serasa Experian, iniciada em 2005. O resultado também corresponde a uma alta de 71% frente ao mesmo intervalo de meses do ano passado (593 pedidos).
Entre os principais fatores que levam as empresas a recorrerem a RJ está a alta carga de juros, que tem pressionado fortemente o caixa das empresas nos últimos anos. Em maio deste ano, o Brasil registrou 6,9 milhões de empresas inadimplentes, o maior número da série histórica do Indicador de Inadimplência das Empresas, que também é apurado pela Serasa.
Esse resultado corresponde a um aumento de 2% quando comparado com março e abril deste ano, meses em que o índice havia paralisado nos 6,7 milhões de companhias com CNPJ sujos.
O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, avalia que o avanço da inadimplência por empresas pode estar ligado à interrupção na queda da taxa de juros básica (Selic) do Banco Central (BC), além da valorização do dólar, que exerce uma pressão adicional.
“O incremento nas taxas de juros pode resultar em pagamentos mais elevados, complicando a gestão financeira. A incapacidade de refinanciar ou renegociar essas obrigações pode levar à inadimplência”, comenta o economista.
Nos seis primeiros meses de 2024, as “Micro e Pequenas Empresas” lideram nos pedidos de recuperações judiciais (713), seguido pela categoria de “Média Empresa” (207) e “Grande Empresa” (94). Já o setor que mais demandou por RJ foi “Serviços (422), depois “Comércio” (277), “Indústria” (161) e “Primário” (154).
No primeiro semestre deste ano ainda, ao todo foram registrados 448 pedidos de falência das empresas. Apesar do volume expressivo, o resultado corresponde a uma queda de 17,9% na comparação com o mesmo período de 2023. A maior demanda por requerimentos de falências veio do porte de “Micro e Pequena Empresa” (267), e, por setor, “Serviços” com 202 pedidos.
Nesta terça e quarta (31), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC realizará nova reunião para definir o nível da taxa Selic. O mercado financeiro (representado por meia dúzia de bancos e agentes financeiros) vem realizando forte pressão – seja via especulação do câmbio, por desancoragem das expectativas, além de previsões alarmistas de descontrole fiscal, etc, por meio de seu porta-vozes na mídia – para que a Selic seja mantida em 10,5%, ou aumente.
O alto nível da Selic já garantiu para bancos, especuladores e rentistas a expressiva soma de R$ 835,7 bilhões, no acumulado de 12 meses até julho de 2024, via o pagamento de juros da dívida pública, segundo dados de Estatísticas fiscais” do BC. Esse volume é quase 2,8 vezes a soma total destinada para o financiamento da indústria, por meio do Nova Indústria Brasil (NIB), com aporte de R$ 300 bilhões, que serão distribuídos até 2026 (parte destes recursos já foi tomada pelo setor no ano passado).