
Ex-todo poderoso chefe da ABIN no governo Bolsonaro muda o tom e segue o roteiro dos golpistas, tentando convencer os ministros que as mensagens agressivas contra as urnas e o STF destinavam-se ao consumo “privado”
Alexandre Ramagem, em seu depoimento, hoje (9), como réu na Ação Penal do golpe de Estado que tramita no Supremo Tribunal Federal, embora confrontado com suas próprias mensagens lidas pelo ministro-relator, Alexandre de Moraes, negou sua participação em qualquer movimento golpista, sob a alegação de que tais mensagens apenas eram “reflexões pessoais”.
No entanto, flagrado açulando a ação golpista nessas mensagens, Ramagem admitiu que não há prova de fraudes nas urnas. Ele chamou suas anotações de “privadas” e “nada novas”, já que Bolsonaro questionava o processo eleitoral desde 2015.
“A forma de concatenar as ideias é sempre em forma de diálogo. Isso não significa que eu tenha conversado com ele (Bolsonaro) ou encaminhado esse documento”, evadiu-se o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) no governo do também réu por tentativa de golpear a democracia, Jair Bolsonaro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Ramagem de integrar o núcleo de articulação da tentativa de golpe e de ter atuado para produzir ou reunir material contra o sistema eletrônico de votação.
O hoje deputado federal pelo Rio de Janeiro também disse que o arquivo reunia anotações sequenciais e exclusivas, feitas por ele ao longo do tempo, e que apenas uma das mensagens contidas no material foi, de fato, compartilhada — um vídeo público de uma audiência no STF sobre testes de segurança nas urnas.
O tom agressivo das mensagens de Ramagem contra o resultado das eleições e a conclusão de que houve fraude, lidas por Moraes, foi substituído por tergiversações mansas baseadas na narrativa de que tudo não passou de mensagens “privadas”, escritas para ele próprio, sem qualquer objetivo de atacar a Justiça Eleitoral e as urnas eletrônicas.
Disse, ainda, que as discussões com seu login e em arquivos privados partiram de votação no Congresso sobre voto impresso. “Foi uma derrota para o governo Bolsonaro”, afirmou, embora algumas de suas mensagens tenham sido publicadas depois do pleito eleitoral.
Mesmo confrontado pelas revelações da Polícia Federal, Ramagem negou ter utilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar autoridades públicas. O deputado e ex-diretor do órgão afirmou que jamais usou estruturas da agência com esse objetivo.
Questionado sobre o sistema FirstMile, tecnologia contratada durante sua gestão para captar sinais de aparelhos celulares. Ele afirmou que o equipamento foi adquirido ainda no governo Michel Temer, com parecer favorável da Advocacia-Geral da União (AGU), e que a contratação foi regular.
Segundo ele, optou-se por não renovar o contrato ao final da vigência, por entender que não era necessário manter o sistema em operação. Ramagem ainda disse que, se há qualquer atuação de uma “Abin paralela”, isso envolveria servidores e oficiais da agência, não os auditores sob sua chefia direta.
O STF continuará os interrogatórios na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado nesta terça-feira (10), com o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, sendo o primeiro a ser ouvido. A sessão será realizada às 9h e transmitida ao vivo pela TV Justiça e YouTube do Supremo. Os demais réus, incluindo Bolsonaro, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, também serão interrogados em ordem alfabética.