CARLOS FERNANDES (*)
Temos que adiar para 15 de novembro ou 6 de dezembro as eleições municipais de 2020 – estou convicto de que neste cenário de pandemia o processo eleitoral está comprometido. Digo isso não porque os candidatos não terão a oportunidade de explorar suas campanhas nas ruas, fazendo o famoso ‘corpo a corpo’, em busca de votos. Minha afirmação tem como principal preocupação o debate da cidade, seus problemas e soluções.
É absolutamente inapropriado colocar estes assuntos em pauta no momento atual, em que estamos todos focados em resolver questões urgentes, como a vida e a subsistência das pessoas.
Soma-se a este cenário um argumento que defendo desde sempre: precisamos de um período de transição mais enxuto no poder Executivo, que não paralise a máquina pública por longos três meses quando o eleito não é o próprio, ou o sucessor daquele que está no poder. No modelo atual gestão fica estagnada enquanto a troca de bastão acontece.
Assim, acredito que não apenas devemos postergar o pleito deste ano, como também mantê-lo permanentemente nos meses de novembro ou dezembro, considerando a mesma mudança para as eleições estadual e federal.
Na grande maioria dos países isto já ocorre desta forma e um mês de transição é tempo suficiente para que o novo ocupante da cadeira se inteire de toda a situação e inicie seu planejamento de governo.
Além disso, manter o calendário que coloca o pleito em outubro é alienar a população. É não dar a todos a oportunidade de ouvir propostas, avaliar cenários e fazer suas escolhas com tempo e a dedicação que esta decisão tão importante merece.
A eleição em outubro seria menos democrática. Debater profundamente a cidade é fundamental para que todos estejam em condições iguais na disputa. A internet romperá muitas barreiras e será terreno de grandes e importantes discussões, mas uma eleição precisa de um tanto mais de vida real. Isso sem mencionar que camadas mais pobres da sociedade teriam reduzido seu direito a conhecimento e participação, pois muitos não têm amplo acesso à rede.
A eleição e tudo o mais inerente a ela são etapas fundamentais do processo democrático e temos que tomar decisões que garantam sua isonomia. A pandemia é o centro das atenções no momento e deve seguir sendo. Há como organizar as coisas sem deixar que nenhuma questão importante para o país seja negligenciada. O Brasil é diverso, cheio de problemas e com cenários complexos. Não há como realizar uma eleição sem olhá-los e debatê-los com o cuidado necessário. Repito: estou convicto – tem que adiar!
(*) Presidente municipal do Cidadania23 – São Paulo
Fonte: Blog do Carlos Fernandes