As maiores manobras militares da Rússia desde a URSS vão até segunda(17) com 300 mil soldados, 36 mil veículos, mil aviões e 80 navios. Putin e Xi confraternizam na “diplomacia das panquecas”
As maiores manobras militares russas desde a União Soviética, Vostok (Leste) 2018, que tiveram início no dia 11 e vão até segunda-feira (17), com objetivo de garantir a paz em tempos conturbados e deter o unilateralismo, foram presenciadas diretamente do Fórum Econômico de Vladivostok, pelos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping.
As manobras Vostok-2018, com 300 mil soldados, 36.000 veículos e blindados, mil aviões e 80 navios, têm a participação de uma força chinesa de 3.200 homens, 900 blindados e 30 aviões e helicópteros. A Mongólia também está presente. As manobras são monitoradas por representantes dos EUA e mais de 50 países, além da Otan. No fórum em Vladivostok, Xi Jinping afirmou que Rússia e China devem trabalhar juntas para enfrentar as “abordagens unilaterais para problemas internacionais”, enquanto Putin anunciava que os dois países reafirmaram sua disposição “em usar as moedas nacionais mais ativamente em pagamentos recíprocos”.
A cordialidade entre Putin e Xi chamou a atenção da mídia global, que chamou de “diplomacia das panquecas” ao almoço oferecido pelo presidente russo ao líder chinês. Já o China Daily saudou as “manobras militares sino-russas em prol da paz”. Putin reiterou a ampla “confiança” que une Rússia e China. Para Xi, “em uma situação internacional em rápida mutação, com crescente instabilidade e imprevisibilidade, a cooperação entre a Rússia e a China assume ainda mais importância”. Ele acrescentou que Pequim e Moscou estão unidos “em defesa da Carta da ONU e da solução política para os problemas e conflitos atuais”.
A Vostok-2018 é mais uma demonstração de que aqueles anos após o fim da União Soviética em que Washington impunha goela abaixo do planeta o que queria, mesmo quase sempre acabando em um desastre, de invasões ‘humanitárias’ e ‘excepcionalismo’ a memorando da tortura e desdém pela ONU, estão ficando inapelavelmente para trás. O que também foi confirmado, recentemente, pela apresentação, pelo presidente Putin, das novas armas hipersônicas russas – “não quiseram nos escutar, ouçam-nos agora” -, bem como pelo papel da China para impedir que o crash de 2008 se transformasse em uma depressão da mesma dimensão de 1930.
Também é um chamado aqueles de bom senso para que se detenha os cercos à Rússia e à China, política iniciada pelo governo do Obama, e mantida até agora, apesar de Trump em sua campanha – e na posse – ter defendido relações normais entre as duas maiores potência nucleares do mundo, Rússia e EUA.
A bem da verdade, quem abriu a corrida para a extensão da Otan até às fronteiras da Rússia foi o democrata Bill Clinton, que também bombardeou a Iugoslávia. E foi Obama, com ajuda da CIA e do senador McWar (oportuno apelido de McCain), quem promoveu o golpe neonazista em Kiev que jogou as relações no impasse, levou o Donbass ao levante armado e a Crimeia à reunificação aprovada em referendo por sua população.
Também desde 2004 – com W. Bush – começou a ser paranoicamente sonhado pelos maníacos de guerra que seria possível desfechar o “primeiro ataque nuclear” – ‘”decapitação” – contra a Rússia, com os mísseis russos remanescentes abatidos pelos antimísseis ianques no Mediterrâneo e na fronteira. Genocídio inviabilizado pelas armas hipersônicas russas.
Conforme a agência estatal alemã Deutsche Welle, essas manobras não são uma surpresa, “os militares russos treinam em outra direção estratégica todos os anos, seja sul, oeste ou leste. É a vez de Vostok (Leste, em russo) novamente. Faz parte do plano de manobra regular”. O que não é incompreensível, dada a quantidade de vezes que já sofreu invasões. No ano passado, ocorreu a Zapad-2017, na região ocidental. Como explicou a DW, as manobras no leste são sempre maiores, porque o Acordo de Viena sobre segurança na Europa limita o tamanho das tropas nessa parte, o que não acontece no leste asiático.
A mensagem evidente do Vostok -2018 é que a Rússia novamente está preparada para defender – e exercer plenamente – sua soberania. Ou, como dizia o item 1 do manual de guerra do general Montgomery, “não marche a Moscou”. Enquanto isso, a degeneração no centro do império acarreta cada vez mais preocupações sobre o futuro: a Rússia após a eleição de 2016 foi tornada refém nas disputas internas dos círculos imperialistas em Washington. Via Russiagate, sanções e provocações que não cessam, convocações “anônimas” a virar a mesa nos EUA, guerra comercial incandescente e outros ingredientes fétidos, como a xenofobia e o racismo.
SIBÉRIA
Os exercícios Vostok estão sendo realizados em cinco áreas de treinamento em terra – na Sibéria e Extremo Leste -, bem como no Mar do Japão, no Mar de Bering e no Mar de Okhotsk, e são comandados desde o centro de operações em Moscou. Uma rede de comunicações protegida foi estabelecida sobre uma área de 9,8 milhões de quilômetros quadrados, segundo o Ministério da Defesa russo. Na terça-feira, o objetivo era o treinamento de deslocamento de tropas e, na quarta-feira, a defesa antiaérea, com os S-300, os S-400, meios de interferência eletrônica e outros avançados aparatos.
O atual estágio da amizade China-Rússia representa a superação das grandes divergências que existiram entre a então URSS e a China, após o amontoado de mentiras de Krushev contra Stalin no final dos anos 1950. Pode-se dizer que o desastre que foi a restauração capitalista na Rússia, mais o esmagamento e esquartejamento da Iugoslávia, de que a destruição com míssil ianque da embaixada chinesa em Belgrado foi o corolário, que abriram caminho para que a reaproximação se tornasse inadiável. Para reverter que a Carta da ONU fosse rasgada de forma tão acintosa, vingou a ‘doutrina Primakov’, de buscar forças no leste, e China e Rússia resolveram todas as pendências nos seus 4.200 km de fronteira comum, até chegar ao atual patamar de amizade estratégica.
ANTONIO PIMENTA