Prossegue em ebulição a guerra comercial decretada pelo governo Trump, com a entrada em vigor na segunda-feira (24) das sobretaxas sobre produtos chineses no valor de US$ 200 bilhões, o que já foi respondido pela China retaliando sobre US$ 60 bilhões em importações americanas. O olho por olho anterior alcançou tarifas sobre US$ 50 bilhões de parte a parte e recriminações na OMC por Pequim, que a Casa Branca tenta ignorar.
No mais recente round, Trump fixou em 10% a tarifa adicional, mas que pode ser escalada para 25% se a China não se dobrar aos ditames de Washington. A resposta, proporcional, de Pequim foi sobretaxas de 5 e 10%.
A China condena as tarifas unilaterais e tem conclamado pelo retorno do bom senso e das normas multilaterais do comércio. Para Pequim, “o que os EUA fizeram não demonstra sinceridade e boa fé”. Está desmarcada a visita a Washington do vice-primeiro-ministro Liu He, principal representante comercial da China e assessor econômico sênior do presidente Xi Jinping.
Com as novas sobretaxas de Trump, metade do que os EUA dizem que são as exportações chinesas para lá já estão sob sanções – os dois países divergem sobre o real tamanho do déficit comercial. E Trump ameaça estender a toda a pauta de exportações para os EUA da China, sob alegação de que as retaliações de Pequim visam sua base eleitoral e seriam uma “intromissão na eleição”.
À parte a escandalosa alegação de Trump de que os demais países é que abusam dos EUA, quando a desindustrialização dos EUA decorreu de decisão dos próprios monopólios ianques buscando tirar proveito do mundo unilateral sob hegemonia de Washington, pós fim da URSS, de que a Apple que sequer tem fábricas é o exemplo mais notório, os círculos do poder no centro do império não escondem que o principal mote não é propriamente o déficit comercial, mas forçar a China a abrir o país aos bancos americanos e deter o programa de domínio, pela China, dos setores de alta tecnologia. Como dano colateral, copiando do jargão do Pentágono, as chamadas cadeias de fornecimento globais, inclusive nos EUA, começam a sentir o golpe segundo os organismos internacionais.
Enquanto a China se arvora na defensora do multilateralismo no comércio mundial, o secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, promete que a guerra comercial com a China continuará até que os americanos recebam “o que eles merecem”. Já Trump quer proibir a China até mesmo de reagir, dizendo que “temos muito mais balas” e a China não pode ousar retaliar. Como disse a comissária de Comércio da UE, “essa escalada é muito lamentável. As guerras comerciais não são boas e não são fáceis de vencer”.
Conforme o Financial Times, a China é mais resiliente do que Trump parece acreditar.
“A exposição direta da economia chinesa às tarifas dos EUA é limitada. As exportações brutas para todos os países equivaleram a 18% do produto interno bruto da China no ano passado – abaixo do pico de 35% em 2006. As exportações para os EUA representaram apenas 4% do PIB chinês”.