A China afirmou que, ao retaliar contra a guerra comercial movida pelo regime Trump, “não visa apenas defender seus próprios direitos e interesses legítimos, mas também o multilateralismo”. A declaração foi feita em coletiva de imprensa pelo porta-voz do Ministério das Relações exteriores, Geng Shuang, que condenou em termos duros a ação de Washington.
“Eu quero ser muito claro: foram os Estados Unidos que iniciaram a guerra comercial, não a China. Foram os Estados Unidos que dispararam o primeiro tiro aumentando as tarifas, não a China. Foram os Estados Unidos que se envolveram em repetidas manipulações e pressão máxima. E não a China”, ressaltou Geng. Partiu também dos EUA, e não do lado chinês, a caracterização da disputa bilateral como uma ‘guerra comercial’. “O que a China está fazendo agora é uma defesa completamente legítima”.
Conforme o GT, “apesar do tom aparentemente mais suave de Washington” – Trump maneirou nos tuítes agressivos -, Pequim adotou “uma postura cautelosa” em relação ao “ramo de oliveira estendido por autoridades dos EUA” para retomar as negociações.
A China tem expressado sua disposição de, quanto às “preocupações razoáveis” de Washington sobre o comércio bilateral, se encontrar com os EUA “no meio do caminho”, mas rechaça os ditames e exige negociação de igual para igual.
O impasse foi decorrência da tentativa de Washington de, ao invés de uma negociação mutuamente vantajosa, “ganha-ganha”, ter investido em impor que a China se escancare aos bancos norte-americanos e abra mão do pleno desenvolvimento interno da alta tecnologia, o que teria de ser forçosamente inscrito na lei chinesa conforme ordens norte-americanas.
Assim, embora as autoridades chinesas também tenham expressado a esperança de continuar com as negociações para aliviar as tensões, não admitem recuar nas questões de princípio e de soberania.
Depois que os EUA aumentaram as tarifas sobre US$ 200 bilhões em mercadorias chinesas na sexta-feira, a China também elevou as tarifas de US$ 60 bilhões em produtos norte-americanos.
Confronto que assustou especuladores no mundo inteiro e deixou ainda mais preocupados os agricultores e consumidores dos EUA – estes, os que vem pagando pelas tarifas adicionais, e não os exportadores chineses, como até o conselheiro-chefe de economia da Casa Branca, Larry Kudlow, admitiu.
“PEQUENA BRIGA”
Na terça-feira, o presidente Trump minimizou a escalada da guerra comercial, descrevendo-a como “uma pequena briga”, e negou aos repórteres que as negociações de comércio tenham entrado em colapso. “Temos um diálogo muito bom. Temos um diálogo”, disse ele.
Por sua vez, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse à Reuters que planejava viajar para Pequim “em breve” para novas negociações. Conforme a CNN, Trump disse ainda que irá se encontrar com o presidente chinês Xi Jinping na cúpula do G20 no Japão em junho.
Esses planos não foram ainda confirmados pelo lado chinês. Na terça-feira, Geng disse que não tinha informações a fornecer quanto a uma reunião bilateral no G20 no Japão.
“Parece que as autoridades americanas podem ter percebido que sua abordagem dura não funciona na China”, disse Li Yong, vice-presidente do Comitê de Especialistas da Associação Chinesa de Comércio Internacional.
Li assinalou que, apesar do tom aparentemente mais brando da véspera, Washington segue preparando a imposição de tarifas adicionais sobre US $ 300 bilhões em produtos chineses. “Não acho que seja útil porque a China já está cansada desse truque”, disse ele.
BOLA NA QUADRA DE TRUMP
Tu Xinquan, decano do Instituto de Estudos da OMC da China, na Universidade de Negócios Internacionais e Economia, em Pequim, sublinhou que “a bola está na quadra dos EUA”. “Se eles puderem aceitar isso, então ainda podemos conversar. Se eles não aceitarem isso, então que assim seja”, concluiu.
Enquanto isso, matéria da Reuters, no sentido contrário, procurou demonstrar que “a China está ficando sem opções para revidar os EUA sem ferir seus próprios interesses”. “Ainda temos munição, mas não podemos usar tudo”, disse uma fonte chinesa que se recusou a se identificar “devido à sensibilidade do assunto”. “O objetivo é chegar a um acordo aceitável para ambos os lados.”
Na análise da Reuters, conforme os dados de comércio do Censo dos EUA, a China teria apenas “US$ 10 bilhões” de produtos dos EUA deixados sem tarifa adicional, o que inclui petróleo e aviões da Boeing. O superávit norte-americano de US$ 40,5 bilhões nos serviços é de taxação mais difícil, por se tratar principalmente de turismo e educação.
A China poderia também apelar para ampliar as barreiras não-tarifárias. “Um yuan mais fraco poderia ajudar a mitigar o impacto sobre as exportações da China das tarifas mais altas nos EUA, mas qualquer desvalorização acentuada da moeda poderia estimular a fuga de capitais”, registrou a agência.
Para aumentar a pressão contra Pequim, Trump, que primeiro falara em trazer de volta da China as fábricas lá implantadas por monopólios norte-americanos, passou a ameaçar a mudança delas “para outros países”, o que seria mais palatável a essas corporações.
Outra opção em que a China tem apostado é seu programa de estímulo do mercado interno, com aumento salarial, minorando eventuais restrições no mercado norte-americano, e também a Iniciativa Cintura-Rota, a Nova Rota da Seda, que é uma espécie de Plano Marshall ampliado para a Eurásia.
Volta e meia, especuladores se mostram temerosos de que a China, que é o maior credor estrangeiro dos EUA, com US$ 1,131 trilhão, despeje em massa títulos dos Tesouro dos EUA, pressionando os juros nos EUA, mas essa é uma opção tida como “nuclear” ou de “última instância”.
A.P.
Que mané “maior credor estrangeiro dos EUA”, os dólares saem dos EUA, não da China. A China conseguiu essa montanha de dólares (bytes) vendendo seus produtos aos americanos. Os chineses não podem exigir outra mercadoria para as transações, senão o dólar. Como não tem muita coisa para fazer com essa moeda estrangeira toda, eles devolvem ao país de origem em troca de juros. A dívida pública é como se fosse uma poupança, um depósito a prazo.
Falando assim, o A.P. fica parecendo aqueles doidos varridos que aparecem na mídia dos EUA e nas discussões em fóruns de internet dizendo que a China está financiando o déficit orçamentário deles.
Fora isso, a matéria está fenomenal.