No último dia 4, Carlos Pereira, redator especial do HP, lançou o seu livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empregados pela reindustrialização do Brasil”, em evento realizado no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.
A publicação reúne entrevistas com representantes dos empresários, dos trabalhadores, e artigos de economistas, que debatem os caminhos para a retomada do desenvolvimento do país.
Veja em Trabalhadores e empresários debatem combate ao rentismo e defesa da indústria nacional.
Confira, a seguir, a íntegra do discurso de Carlos Pereira no evento:
RETOMAR O CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO
CARLOS PEREIRA
O livro “Produção versus Rentismo” é uma coletânea de entrevistas e artigos com lideranças empresariais, de trabalhadores e pensadores sobre um projeto de desenvolvimento nacional, com base, principalmente, em empresas nacionais, no mercado interno e no Estado.
Esse trabalho teve o objetivo de promover na sociedade, entre lideranças sindicais, empresariais e da sociedade civil, a discussão sobre o desenvolvimento do país, mas, como consequência, tive o prazer de ver reascender as raízes do pensamento destoante da mesmice burra e da acapachada unanimidade do pensamento econômico atual, do chamado neoliberalismo.
Das raízes, cito o discurso do presidente Getúlio no Senado, em 1947, em que ele diz: “Já em várias oportunidades sublinhei a verdade bem conhecida a respeito da dependência em que ficam os países produtores de matérias-primas em relação às potências industriais”.
Ou Álvaro Vieira Pinto, no artigo “Ideologia e desenvolvimento nacional”. Diz ele: “É imprescindível a ideologia do desenvolvimento nacional. A ideologia do desenvolvimento tem necessariamente de ser fenômeno de massa”.
Ou então, outra joia, destacada por Carlos Lopes, a afirmativa de Roberto Simonsen na fundação do Centro das Indústrias, hoje Ciesp, em 28 de março de 1928: “A grande indústria, por toda parte do mundo em que se instala, tem como corolário o aumento de salários, o barateamento relativo dos produtos, o enriquecimento social e o aumento da capacidade de consumo”.
Essas raízes foram colhidas no excelente livro sobre o nacional-desenvolvimentismo, organizado por Nilson Araújo e Rosanita Campos.
A economia do ‘consenso’ não admite discussão. É porquê é, e pronto. Não é uma ciência, é uma religião. Por isso, precisa fazer tanto barulho. É para abafar as contradições com a realidade. Prega o Estado mínimo, câmbio livre, metas inflacionárias completamente fora da realidade, privatização selvagem, juros nas nuvens etc.
Não importa se não deu certo em lugar nenhum, se, nos países dependentes, só provocou desemprego, desindustrialização e apenas beneficiou a especulação financeira e os monopólios.
O Brasil iniciou sua caminhada ao destino de grande potência. Durante 50 anos foi o país que mais cresceu no mundo, de 1930 a 1980, 7% em média. O PIB era maior que da China e da Coreia somados.
Cresceu puxado pela indústria de base e extrativa, com a Petrobrás, Eletrobrás, CSN, refinarias, Vale do Rio Doce. A indústria chegou a 35% do PIB em 85.
Câmbio controlado, investimento público nas áreas estratégicas acima citadas, salário mínimo suficiente para sustentar uma família de 4 pessoas, financiamento público abundante.
Ou retomamos nossa caminhada ou o Brasil deixará de ser uma nação soberana e desenvolvida.
A situação está no limite. O preço da dívida pública foi R$ 865 bilhões no último ano. Os bancos se locupletam com R$ 20 bilhões de lucro no último trimestre.
O PIB nos últimos 40 anos cresceu 2% ao ano. Estagnou. O PIB hoje é 10 vezes menor que o da China. A indústria é ⅓ do que era. De 30% foi para 10% do PIB. O Estado não consegue garantir a segurança, a saúde, 20 milhões passam fome, 40 milhões estão na informalidade.
Só não vê quem não quer.
Esse é o nosso dilema em “Produção versus Rentismo”.