Um grupo de alunos de 16 a 17 anos, ao final de seu curso de ensino médio, se reuniu nas escadarias da sua escola, a Baraboo High School, única escola da cidade de mesmo nome, no Estado de Winsconsin, e fizeram todos (à exceção de um) a saudação que os nazistas alemães faziam a qual acompanhavam com a famigerada palavra de ordem de “Zieg Heil!”.
A foto foi tirada em 2018 mas se espalhou pelas redes sociais no dia 12 de novembro. Além de fazerem a saudação, os alunos riem, dando a entender que a “brincadeira” os estava divertindo muito. Um dos alunos aproveita para fazer o gesto dos supremacistas brancos norte-americanos.
Em artigo publicado no portal Vox, o colunista Zack Beauchamp denuncia que o gesto coletivo representa o “sombrio fato de que a memória americana dos crimes nazistas está se apagando, especialmente entre os da nova geração”. Segundo ele, em uma pesquisa recente, 66% dos que nasceram dos anos 1980 a 2000 (agora na faixa dos 18 aos 38 anos) não têm ideia do que foi Auschwitz. A mesma pesquisa aponta que 41% de todos os norte-americanos não o sabem.
Jordan Blue, o único dos que aparecem na foto sem rir e sem fazer a saudação, declarou que “os alunos passaram cinco minutos tirando fotos e rindo muito” sobre a “brincadeira chocante” com a saudação hitlerista.
Zack, que se diz chocado não apenas com a foto, mas com a disseminação de manifestações neonazistas no país, é neto de sobreviventes de Auschwitz e que, enquanto sua avó Anita morreu quando ele ainda era pequeno, cresceu convivendo bastante com seu avô David que tinha um número tatuado no braço e no qual “podia perceber o trauma psicológico que sua estadia em Auschwitz lhe infligiu”.
Como diz Zack, para ele, o nazismo não era uma coisa do passado, “estava quase literalmente presente em nosso lar”.
Ele alerta que somente nove Estados dos Estados Unidos obrigam algum tipo de educação alertando para os crimes nazistas aos alunos do ensino básico ou médio. “Até nas aulas de História não existe necessariamente o ensino daquilo que os estudantes precisam saber”.
Quando Hanna Arendt cunhou a expressão a “Banalização do Mal” referindo-se ao grau de alienação de Adolf Eichman, executor da “Solução Final”, que consistiu no extermínio de milhões de judeus, e por extensão o alheamento de todos os dos altos mandos nazistas, diante da real e monstruosa dimensão do mal que infligiam aos outros e, por via de consequência, da sua degeneração ou até da própria bestificação, ou seja, do seu afastamento da espécie humana, levando-os a “justificar” seus crimes, ou porque “executavam ordens” ou porque “realizavam tarefas burocráticas”, não entendia claramente o quanto esse processo iria se aplicar no estágio estupidamente degenerado ao qual a ideologia imperante no imperialismo norte-americano está chegando.
De fato, não há, do ponto de vista ideológico, nenhuma diferença entre a negação da humanidade aos agredidos, aos que não integram a nacionalidade ou raça dos supremacistas – visão que conduziu aos crimes que os nazistas cometeram durante a Segunda Guerra – e a que os invasores norte-americanos expõem ao perpetrarem sua chacina no Vietnã (no filme Nascido para Matar o diretor, Stanley Kubrick, o mostra com maestria), do mesmo modo como no comportamento dos carcereiros norte-americanos na prisão iraquiana de Abu Ghraib.
Além disso, é claro, não interessa a um establishment que baseia sua política externa no chamado “excepcionalismo norte-americano” e que tem se envolvido em agressões constantes, uma seguida de outra – a exemplo das recentemente perpetradas no Iraque, Líbia e Afeganistão; que apoia o regime de apartheid israelense com armas e dinheiro; que dá suporte militar e diplomático à monarquia saudita em plena execução do desumano genocídio de iemenitas, discutir com profundidade as raízes formativas da ideologia nazista, ou vacinar a juventude contra uma criminalidade que se predispõe costumeiramente a perpetrar.
Uma outra questão é que não serve em absoluto de desculpa ou algum tipo de alívio que os estudantes que se perfilaram em uma saudação hitlerista digam, agora que entrevistados, que “estavam apenas brincando”. Com o nazismo não há nenhum aspecto passível de brincadeira. Somente se pode brincar com essa excrecência aderindo a ela.
Como salienta o jornalista Robert Evans, que acompanhou os momentos de conflito no Iraque (com a invasão pelos EUA) e na Ucrânia (com o golpe que levou uma junta nazista ao poder) e que investigou publicações nas redes sociais de 75 ativistas neonazistas, a partir do seu estudo, “não é incomum para supremacistas brancos, fascistas ou antissemitas disseminarem suas crenças em manifestações de [suposto] humor. Figuras e dizeres irônicos dão a estes indivíduos algo como a oportunidade de se acostumarem com a temperatura antes de mergulharem” nas ideologias e nas práticas iguais ou similares aos nazistas.
Uma ex-aluna, recém graduada na Baraboo High School, que não quiz se identificar, ao falar da foto, afirmou que “definitivamente não é a primeira vez que este tipo de comportamento problemático e ferino acontece e fica sem punição”.
NATHANIEL BRAIA