De acordo com a investigação, as perfurações executadas pela mineradora foram iniciadas no local crítico cinco dias antes da estrutura se romper
O rompimento da barragem B1 da Mina de Córrego de Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019, foi causado por perfurações executadas pela mineradora Vale, com o uso de uma perfuratriz com injeção de água na estrutura da barragem. A conclusão do laudo pericial sobre o crime ocorrido em Minas Gerais foi apresentada nesta sexta-feira (26) pela Polícia Federal.
O rompimento da barragem B1 da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, causou a morte de 270 pessoas, dentre funcionários da mineradora Vale, de empresas terceirizadas, de moradores da região e visitantes. Desse total, 11 pessoas ainda continuam desaparecidas.
“O motivo foi a perfuração de uma sonda mista que chegou em uma seção da barragem que estava muito sensível ao processo de liquefação. A liquefação funciona como ondas de água que se propaga para a próxima seção da barragem, causando um efeito dominó, que é muito rápido. O colapso da barragem durou 30 segundos, desde a primeira seção que começou a se liquefazer”, explicou o delegado da Polícia Federal , Luiz Augusto Pessoa Nogueira.
De acordo com a investigação, as perfurações executadas pela mineradora foram iniciadas no local crítico cinco dias antes da estrutura se romper. Esse também foi o gatilho para a ocorrência do processo de liquefação da barragem que, nada mais é que a transformação do material sólido em material líquido, aumentando a instabilidade da estrutura.
O laudo aponta que o fenômeno gerou a ruptura da estrutura no alteamento de número oito, em um ponto a 68 metros de profundidade da barragem. Essa ruptura se espalhou por toda a estrutura e ocasionou o rompimento total.
PERFURAÇÃO
As investigações apontaram que a Vale tinha o objetivo de, com as perfurações, fazer a identificação dos materiais que compunham o rejeito de minério nas diversas sessões da barragem, do topo até o fundo. O segundo objetivo, era de instalar mais piezômetros, que são aparelhos de monitoramento de estabilidade na estrutura.
Segundo a Polícia Federal, em outubro de 2018, a mineradora contratou uma empresa terceirizada para identificar os pontos frágeis da barragem B1. O método utilizado foi a perfuração simples, sem o uso de grande estruturas.
“O estudo identificou quais seriam os pontos mais sensíveis a um processo de liquefação da barragem. A barragem tem cerca de 80 metros de altura e uma lança simples atravessou a estrutura identificando em todas as seções da barragem, aquelas que apresentavam uma sensibilidade maior. Na segunda etapa a Vale faria perfurações para fazer um apanhado de quais materiais eram formadas cada seção e instalar os piezômetros”, pontuou o delegado.
O estudo realizado na primeira etapa, no entanto, não teria sido analisado previamente para orientar o trabalho das grandes perfurações na barragem. A investigação apontou que a mineradora iniciou os trabalhos de perfuração antes de uma segunda empresa terceirizada analisar o dados.
“O que a gente entende é que a Vale teria que ter processado as informações da primeira etapa desse processo, para aí verificar qual seria a melhor técnica a ser utilizada para fazer a análise dos materiais de todas as sessões. A Vale recebeu, mas não processou as informações”, explicou o delegado.
PRESSÃO
O laudo pericial revelou que a pressão no ponto crítico da barragem foi aumentado em duas vezes durante as perfurações. O documento explica que esse aumento se deu por conta da pressão do fluído utilizado na perfuratriz para resfriar o equipamento durante os trabalho. No dia do rompimento, uma perfuratriz trabalhava no alteamento de número oito da barragem.
A Polícia Federal informou que serão feitas novas diligências até a conclusão do inquérito que devem contar, inclusive com depoimentos dos envolvidos.
INQUÉRITO
Em fevereiro de 2020, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou 16 pessoas à Justiça pelo episódio. Onze eram funcionários da Vale à época e ocupavam cargos de diretoria e gerência na empresa, incluindo o presidente da mineradora, Fábio Schvarsman. Outras cinco funcionários da Tüv Süd, empresa alemã responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem, foram denunciadas no processo.
Na denúncia o MPMG pontuou que “com o apoio da Tüv Süd, a Vale operava uma caixa-preta com o objetivo de manter uma falsa imagem de segurança da empresa de mineração, que buscava, a qualquer custo, evitar impactos a sua reputação e, consequentemente, alcançar a liderança mundial em valor de mercado”.
Todas as 16 pessoas foram denunciadas por crime de homicídio duplamente qualificado multiplicado por 270 vezes. Todos também responderão por pela prática de crimes contra a fauna, a flora e a poluição.
Até agora, nenhum dos envolvidos foi julgado.
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