Os laudos de perícias feitas nos corpos dos nove mortos no Complexo de favelas do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, indicam várias lesões causadas por projéteis de alta energia (fuzil ou similar), em diversos lugares dos corpos como olho, costas e outros. Os exames também apontaram para crânios fraturados.
As análises foram realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Civil, e indicam um total de 44 tiros nos nove corpos.
Veja abaixo o detalhamento dos ferimentos e as causas das mortes:
Kauã Brenner Gonçalves Miranda – 17 anos – Nove tiros: um no peitoral esquerdo; um no peitoral direito; três na parte de cima da coxa direita; um na parte interna da coxa direita; um na parte de fora do terço inferior da perna direita. Causa da morte: hemorragia interna após ação perfuro-contundente (tiro)
Rafael Menezes Alves – 28 anos – Seis tiros: um tiro no olho; três tiros no torso, sendo pelo menos um nas costas; tiro no braço direito. Causa da morte: lesão cerebral e hemorragia interna após ação perfuro-contundente (tiro).
Carlos Eduardo Curado de Almeida – 31 anos – Sete tiros: olho; têmpora esquerda; flanco direito; púbis (lado esquerdo); coxa direita e perna direita. Causa da morte: fraturas no crânio, laceração do encéfalo, hemorragia interna por ação perfuro-contundente (tiro).
Jhonata Klando Pacheco Sodré – 28 anos – Cinco tiros: cabeça; parte direita das costas; Ilíaco direito; coxa direita; coxa esquerda. Causa da morte: hemorragia interna, choque hipovolêmico, fratura do crânio e lesão do encéfalo após ação perfuro-contundente (tiro).
Élio Da Silva Araújo – 52 anos – Três tiros: um na base do pescoço; um abaixo da escápula/omoplata esquerda; um abaixo da escápula/omoplata direita. Causa da morte: hemorragia interna e choque hipovolêmico após ação perfuro-contundente (tiro).
Ítalo George Barbosa de Souza Gouvêa Rossi – 33 anos – Seis tiros: base do crânio; tórax do lado esquerdo; tórax do lado direito; região lombar; punho esquerdo; punho direito. Causa da morte: hemorragia interna, choque hipovolêmico e traumatismo raquimedular após ação perfuro-contundente (tiro).
Douglas Vinícius Medeiros da Silva – 27 anos – Um tiro: face lateral esquerda do pescoço. Causa da morte: traumatismo raquimedular.
David Wilson Oliveira – 23 anos – Cinco tiros: região occipital à direita; lábio superior; flanco direito; coxa esquerda e coxa direita. Causa da morte: fraturas no crânio e laceração do encéfalo.
Igor da Costa Coutinho – 24 anos – Dois tiros: um na cabeça e outro no braço esquerdo. Causa da morte: traumatismo cranioencefálico.
CONFRONTO
Ao todo 75 agentes do Bope estiveram na comunidade no fim de semana. No final da tarde desta quarta-feira (24), a Polícia Civil recebeu da PM oito fuzis, um para cada militar que disse ter atirado durante a ação. São quatro Colt calibre 556 e quatro Ar-10 calibre 762, de acordo com a corporação.
As armas serão usadas para confronto balístico, parte fundamental da investigação. O exame só será possível porque três dos corpos têm balas alojadas no corpo, o que permite a extração e comparação com os projéteis dos policiais envolvidos na ação. Os laudos de necropsia foram produzidos no IML da mesma cidade.
Além da análise dos laudos, a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Maricá e Itaboraí (DHNSG) continua as investigações para apurar as circunstâncias das mortes. De acordo com a especializada, testemunhas estão sendo ouvidas.
O documento interno da Polícia Militar que registra a presença de 75 policiais do Bope no Complexo do Salgueiro é assinado pelo major Carlos Eduardo da Silveira Monteiro e foi remetido do Bope para o Comando das Operações Especiais (COE), que autorizou a operação.
De acordo com o relatório, o objetivo da operação era “reprimir ações de ataque às viaturas”. O Bope justifica que tornou-se “imperiosa a atuação” para “restabelecer a ordem na área conflagrada”, com objetivo de identificar e prender os responsáveis pela morte de Silva e, eventualmente, retirar da comunidade policiais que permaneceram ali após o ataque.
Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), as forças de segurança do Rio de Janeiro têm obrigação de justificar as operações policiais em comunidades, que estão permitidas em casos excepcionais.
Na avaliação da defensora pública do Rio de Janeiro, Maria Júlia Miranda, a ação no Complexo do Salgueiro foi uma “operação vingança” em retaliação à morte do PM no dia anterior. O MP já instaurou processo investigatório sobre as mortes.