
Jair Bolsonaro usou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e realizou reuniões dentro do Palácio do Planalto para preparar seu show de fake news contra as urnas eletrônicas e a democracia, realizado em live no dia 29 de junho de 2021.
O especialista em crimes cibernéticos e responsável por testes realizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas urnas eletrônicas, Ivo Peixinho, contou à Polícia Federal que Jair Bolsonaro usou a Abin para entrar em contato com ele e coletar informações sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Peixinho disse que produziu relatórios sobre a atividade da PF na segurança do sistema eleitoral e sobre os testes públicos organizados pelo TSE.
O especialista falou que “de forma alguma” seus relatórios corroboravam com o que Bolsonaro e seu ministro falavam sobre as supostas fraudes nas eleições. Além de não indicar fraudes, o especialista ainda mostrou que o TSE corrigiu as falhas que foram encontradas durante os testes.
Mesmo assim, no dia 29 de julho de 2021, Jair Bolsonaro e o então ministro da Justiça, Anderson Torres, usaram trechos de seu relatório para sustentar as mentiras sobre as urnas eletrônicas.
Ivo Peixinho relatou que o governo Bolsonaro mostrou, antes da live, as acusações e “provas” que apresentaria. Sua resposta foi de que não era possível avaliar a planilha que iria ser divulgada na transmissão e sua sugestão foi de que a documentação fosse enviada para a Polícia Federal.
Ivo Peixinho contou que ele e outro especialista chegaram a ser chamados para uma reunião com Jair Bolsonaro, Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Alexandre Ramagem (então diretor da Abin), Luiz Eduardo Ramos (então ministro da Casa Civil) e Eduardo Gomes, assessor de Ramos, além de outros assessores que ele não soube identificar, para falar sobre o sistema eleitoral.
Segundo o jornal O Globo, a PF também ouviu o técnico em informática e empresário Marcelo Abrieli, que foi quem produziu a planilha apresentada como Jair Bolsonaro como “indício” ou “prova” e que as eleições de 2014 foram fraudadas.
Abrieli disse que foi atrás dos dados da eleição por medo que o “comunismo tomasse o Brasil”. Depois de organizar uma planilha, que segundo peritos da PF não demonstra nenhuma fraude, o técnico em informática levou o caso para o deputado bolsonarista Luiz Philipe de Orléans e Bragança (PL-SP).
O deputado Luiz Philipe o encaminhou para o Comando Militar Sudeste, então comandado pelo general Luiz Eduardo Ramos, que virou ministro de Bolsonaro.
No final de 2019, Marcelo Abrieli chegou a se reunir com Jair Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos e mais oito pessoas que ele não conhecia para que fosse apresentada a planilha da eleição de 2014.
Entre os meses de junho e julho de 2021, Luiz Eduardo Ramos voltou a ligar para Marcelo e o colocou no viva-voz com Jair Bolsonaro, “avisado que estavam reunindo várias informações sobre possível fraude nas urnas eletrônicas”.
Abrieli repassou a planilha que produziu para o governo Bolsonaro, que a utilizou como “prova” de que as eleições tinham sido fraudadas.