O ex-presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o cientista Ricardo Galvão, foi listado como um dos dez cientistas do ano pela revista Nature, periódico britânico com alto prestígio na área acadêmica em todo o mundo. O meio científico brasileiro já considerava Ricardo Galvão como um de seus maiores cientistas, antes mesmo deste merecido reconhecimento internacional.
Ricardo Galvão foi perseguido no Brasil por Jair Bolsonaro, que o acusou de mentir sobre os alertas de aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia e outras regiões.
“Naturalmente, como brasileiro, me sinto triste pelo motivo da indicação ter sido o fato de o governo não ter cumprido suas obrigações com a preservação da Floresta Amazônica. Por outro lado, fico satisfeito, porque foi um momento difícil decidir o que fazer naquela ocasião, mas entendi que deveria demarcar uma posição firme. Não era apenas a questão do desmatamento, mas um ataque à ciência brasileira”, afirmou o cientista ao O Globo, nesta sexta-feira (13).
Os ataques de Bolsonaro a Galvão começaram em julho deste ano. Nesta época, o Inpe divulgou dados alarmantes sobre o crescimento do desmatamento na Amazônia. Segundo o instituto, houve um crescimento de 88% na derrubada da floresta naquele mês, em comparação com o ano anterior.
A reação de Bolsonaro, que havia iniciado um processo de desmonte dos órgãos de fiscalização, foi de fúria contra Ricardo Galvão. Em aparições públicas, Bolsonaro disse, diversas vezes, que as informações do Inpe não condiziam com a verdade.
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, um cidadão que é réu por crimes ambientais em São Paulo e é investigado por suspeita de enriquecimento ilícito, se aproveitou dos ataques de Bolsonaro para apresentar uma empresa privada para substituir o monitoramento público feito pelo Inpe.
O cientista saiu em defesa do Inpe e de seu Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), considerado um dos mais avançados do mundo. Os ataques de Bolsonaro ao Inpe visavam desmontar a principal base técnica para o monitoramento das queimadas. Galvão chegou a dizer que a atitude de Bolsonaro era de confrontação com a ciência.
O método foi desenvolvido como um sistema de alerta para dar suporte à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal realizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e demais órgãos ligados a esta temática.
De maio de 2004 a dezembro de 2017, o Deter emitiu mais de 70.000 alertas de alteração da cobertura florestal totalizando aproximadamente 88.000 km2. Em agosto de 2015 o Inpe começa a operar uma nova versão do Deter, em resposta a alteração do padrão de áreas desmatadas na Amazônia. Atualmente, a maior parte dos polígonos de desmatamento possui área unitária menor que 25 hectares. Neste contexto o Deter passou a identificar e mapear, em tempo quase real, desmatamentos e demais alterações na cobertura florestal com área mínima próxima a 1 ha.
Neste mesmo período em que Bolsonaro e Ricardo Salles atacavam Ricardo Galvão, o senador Marcos Rogério (Dem-RO), divulgava um vídeo (assista abaixo) onde Bolsonaro aparece desautorizando fiscais do Ibama que destruíram, como manda a lei, equipamentos usados por desmatadores ilegais na Amazônia. O físico deixou o cargo em agosto, após semanas de confronto com o governo Jair Bolsonaro.
Vídeo de Jair Bolsonaro defendendo madeireiros ilegais