Alerta do ex-presidente do Banco Central foi feito em entrevista nesta segunda-feira (13) ao jornal Valor Econômico
O economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES, e um dos criadores do Plano Real, afirmou nesta segunda-feira (13), em entrevista ao jornal Valor Econômico, que o recuo do presidente Jair Bolsonaro em relação aos ataques feitos por ele ao Supremo Tribunal Federal (STF) no 7 de Setembro, foi apenas “tático”. “Ele já fez esse recuo tático outras vezes, agora vai escolher o melhor momento para avançar de novo”, disse Arida.
“Ele certamente percebeu que corria um risco concreto de sofrer um impeachment. Percebeu que as manifestações de caminhoneiros iriam diminuir o seu capital político, com o desabastecimento e a desordem causada por ele mesmo”, afirmou o economista, referindo-se à carta à nação, divulgada por Bolsonaro dois dias depois de sua tentativa frustrada de golpe. Na carta, redigida por Michel Temer, Bolsonaro encena um recuo nos ataques ao STF.
“Ele certamente percebeu que corria um risco concreto de sofrer um impeachment. Percebeu que as manifestações de caminhoneiros iriam diminuir o seu capital político, com o desabastecimento e a desordem causada por ele mesmo”
“O que aconteceu no 7 de setembro é eloquente. Não há como negar. E a percepção não é brasileira, é internacional. Existe um risco para as instituições democráticas, sim, para todo o sistema de “check and balances” de poderes”, acrescentou Pérsio Arida, seguindo a opinião de outros personagens que também alertaram para isso, como foram os casos do senador José Aníbal, do PSDB, do ex-decano do STF, Celso de Mello, e do governador Flávio Dino, do PSB.
“O que aconteceu no 7 de setembro é eloquente. Não há como negar. E a percepção não é brasileira, é internacional”
“O objetivo de Bolsonaro com o voto impresso é claramente criar um tumulto no processo eleitoral. Já preparar o argumento de que teve uma fraude. Evidentemente, ninguém é ingênuo, dentro e fora do Brasil. Há também a sistemática intervenção nos órgãos que fazem políticas contrárias às suas, como é o caso do desmonte do Ibama”, prosseguiu o economista.
Na opinião doa, “certamente o comportamento hostil será retomado”. “Quem agora vai acreditar numa carta escrita pelo Temer que ele sequer chegou a ler?”, indagou Arida, acrescentando que as insanidades de Bolsonaro estão transformando o Brasil em “pária”, aos olhos do mercado financeiro internacional.
“Quem agora vai acreditar numa carta escrita pelo Temer que ele sequer chegou a ler?”
“É normal alguma incerteza em épocas de eleições presidenciais, mas desta vez ocorre de forma antecipada. O que ocorre agora é diferente”, observa. “É um risco extra, de manifestações armadas, de insubordinação de policiais, de bloqueio de caminhoneiros”, aponta Pérsio Arida. “No conjunto da obra, incluindo os retrocessos nos direitos e na preservação ambiental, esse governo está caminhando para ser o pior da história republicana”, prossegue o economista.