“Isso só aumenta o isolamento de Israel”, adverte Amorim. “Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é [persona] non grata é Israel”, destacou o ex-chanceler. O presidente comparou as mortes de palestinos em Gaza ao que foi feito por Hitler contra os povos do leste europeu na II Guerra
O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, ex-chanceler Celso Amorim, classificou como absurda a decisão de Israel de declarar Lula “persona non grata” após o presidente comparar as mortes de palestinos em Gaza ao que foi feito por Hitler no holocausto. “Só aumenta o Isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é [persona] non grata é Israel”, disse Amorim à coluna da jornalista Andréia Sadi, do G1.
O mundo inteiro está assistindo estarrecido ao assassinato de milhares de civis, na maioria mulheres e crianças, pela ditadura israelense nos últimos dias. Na última semana, as forças fascistas de Netanyahu invadiram um hospital e causaram a morte de dezenas de pessoas que estavam internadas. Cortaram o oxigênio dos pacientes. Eles já tinham deixado crianças em incubadoras morrerem.
Os bombardeios no sul de Gaza estão ceifando a vida de centenas de pessoas todos os dias. Tudo filmado e divulgado por todo o planeta. Tirando Joe Biden, que não bate bem da cabeça, e que tem interesses financeiros bilionários com a guerra, ninguém de expressão no mundo aprova esses crimes.
O que Lula disse, portanto, foi uma verdade inconteste. “Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente, e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio, de que não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”, afirmou Lula.
As atrocidades que Netanyahu está cometendo diariamente contra a população indefesa de palestinos em Gaza são tão cruéis e desumanas que não têm como não serem comparadas com as que Hitler cometeu contra as populações no leste da Europa durante a guerra na década de 1940. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus”, denunciou Lula.
“Então, prosseguiu ele, “não é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, você deixar de ter ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30 mil pessoas que já morreram, 70 mil que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram, sem saber porque estavam morrendo? Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos políticos do planeta?”.
Lula comparou as duas situações como semelhantes. Mas, há até quem vá mais longe e afirme que os crimes de Netanyahu são piores do que os de Hitler. Eles afirmam que os nazistas, pelo menos esconderam seus crimes contra os judeus, contra os comunistas e contra a população soviética, quando mais de 27 milhões de pessoas foram vítimas. Já os horrores que estão sendo praticados hoje contra a população civil palestina por Netanyahu acontecem à luz do dia e com transmissão online para todo o mundo.
Sem dúvida, os nazistas assassinaram um número bem maior de pessoas, mas os métodos são bastante são semelhantes aos que estão sendo praticados por Netanyahu. “O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza”, completou Lula. A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) afirmou que ser considerado “persona non grata” por Israel é “uma honra para a biografia de Lula”.
Declaração completa do presidente Lula sobre Gaza em resposta a pergunta de uma jornalista da Radio France
“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente, e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio, de que não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.
Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há quantas décadas – há quantas décadas – tentando construir o seu estado. Brasil não apenas afirmou que vai dar contribuição – não posso dizer quanto, porque não é o presidente que decide, é preciso ver quem é que cuida disso no governo para saber quanto é que vai dar – como o Brasil disse que vai defender na ONU a definição do Estado Palestino ser reconhecido definitivamente como estado pleno e soberano.
É importante lembrar que em 2010, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado Palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus. Então não é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, você deixar de ter ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30 mil pessoas que já morreram, 70 mil que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram, sem saber porque estavam morrendo? Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos políticos do planeta?
Então, sinceramente, ou os dirigentes políticos mudam o seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política. O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação. Nós não temos governança. Eu digo todo dia: a invasão do Iraque não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Líbia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Ucrânia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. E a chacina de Gaza não passou pelo Conselho de Segurança da ONU.
Aliás, as decisões tomadas pelo Conselho não foram cumpridas, e tampouco foi cumprida a decisão penal tomada agora no processo da África do Sul. O que é que nós estamos esperando para humanizar o ser humano? É isso que está faltando no mundo. Então o Brasil continua solidário ao povo palestino. O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza.”