Keiko Fujimori, líder do partido Fuerza Popular e filha do corrupto ditador Alberto Fujimori, foi presa pela Justiça peruana na quarta-feira, 31 de outubro, e deverá cumprir prisão preventiva por três anos, enfrentando um julgamento por lavagem de dinheiro e receptação de financiamento oculto da Odebrecht. Esse crime tem uma pena de entre 10 e 20 anos, e para o qual a Promotoria declarou ter evidencias sólidas.
O juiz Richard Concepción Carhuancho divulgou sua resolução para o caso de Keiko sem esperar que se concluam os casos de todos os acusados para os quais a Promotoria tem pedido prisão preventiva. Ficou pendente a decisão sobre outros dez implicados, entre eles os ex-ministros Jaime Yoshiyama e Augusto Bedoya, também envolvidos no recebimento de fundos da Odebrecht para a campanha presidencial de Keiko em 2011.
Vestida de negro, Keiko, repetindo o bordão bastante divulgado no Brasil, declarou ser vítima de uma perseguição política, algo que os dirigentes fujimoristas falavam com insistência, mas tão sem sustentação na realidade que ninguém levou a sério.
A Justiça acusa Keiko de encabeçar uma organização criminosa encarregada de lavar pelo menos um milhão de dólares entregues em efetivo e de forma oculta pela Odebrecht para sua campanha. Segundo a acusação, as operações de lavagem foram feitas através de rifas fantasmas, coquetéis para arrecadar fundos de falsos contribuintes. Já foram identificados cerca de 200 doadores falsos.
Em maio de 2017, Marcelo Odebrecht confirmou ter feito contribuições a Keiko Fujimori e ao Partido Aprista Peruano para a campanha. Segundo reportagem do jornalista Gustavo Gorriti publicado no portal IDL-Reporteros, a declaração foi feita durante um interrogatório de duas horas na sede da Polícia Federal em Curitiba.
Documentos da Odebrecht chegados até a Promotoria na última semana confirmam a entrega desse dinheiro. E a testemunha chave de Justiça peruana é o deputado fujimorista Rolando Reátegui, do círculo próximo a Keiko. Reátegui, que decidiu falar quando percebeu a gravidade da situação, confessou que, por ordem da chefe do fujimorismo, foi um dos encarregados de recrutar falsos doadores para lavar o dinheiro ilegal de caixa 2 e revelou detalhes das operações que comprometem seriamente a Keiko e a sua cúpula partidária.
A Promotoria denunciou ameaças às testemunhas e assinalou que o fujimorismo vem usando seu poder político e suas influências na Justiça para obstruir a investigação. O promotor José Domingo Pérez enfatizou as relações de Keiko e dirigentes fujimoristas com uma máfia judicial recentemente descoberta que vendia sentenças e nomeações de magistrados. O juiz considerou que essas ações de obstrução ao processo judicial e as evidências do delito de lavagem apresentadas justificam a prisão preventiva.
A prisão da líder deste vasto sistema de corrupção ocorre quando o fujimorismo atravessa uma grave crise, com divisões internas, renúncias dentro da bancada parlamentar, a remoção de toda a cúpula partidária, exceto Keiko, acusações sem fim de corrupção, um de seus mais importantes deputados contando à Promotoria o que sabe dos manipulações sujas do partido, uma acachapante derrota eleitoral há menos de um mês e uma rejeição da população de 80%. No Congresso, sua bancada encolheu para 62 legisladores com a perda da maioria, nas eleições regionais de 7 de outubro. O candidato fujimorista para a prefeitura de Lima só obteve 2,8% dos votos. A sigla não venceu em nenhum dos 25 estados em que disputou.
Como aconteceu com o seu pai – internado em uma clínica para evitar voltar à prisão – Keiko, que esteve perto de chegar à presidência do Peru em 2011 e 2016 e esperava chegar lá em 2021, deve terminar sua performance política presa.