O presidente do Peru, Martín Vizcarra, anunciou, na manhã desta terça, que não irá mais assistir à posse de Bolsonaro. O motivo alegado é um retorno urgente ao seu país uma vez que o procurador-geral, Pedro Chávarry, aproveitando-se da ausência do presidente, demitiu o promotor, José Domingo Pérez, que chefiava até esta semana a operação Lava Jato Peruana. “Diante destes acontecimentos, decidi adiantar meu regresso para seguir encabeçando a luta contra a corrupção e a impunidade”, afirmou Vizcarra.
O presidente peruano aproveita a crise para se livrar do incômodo de aparecer na posse de um presidente que já começa seu mandato enredado no caso envolvendo laranjas depositando dinheiro na conta da esposa dele, enquanto combate a corrupção que se instalara em torno das atividades da Odebrecht em seu país, o Peru.
Vizcarra acrescentou que expressa seu “enérgico rechaço à remoção dos promotores a cargo dos mais importantes casos de investigação sobre corrupção. A luta frontal contra a corrupção e a impunidade é uma política prioritária de governo, uma necessidade impostergável e uma causa cidadã”.
O procurador-geral também demitiu o coordenador de equipe, Rafael Vela, que atuava junto a Pérez, em investigações sobre ilícitos cometidos por Keiko Fujimori e Alan Garcia, um dos ex-presidentes flagrados em atos corruptos dentro do esquema peruano de troca de propinas por obras a favor da Odebrecht.
A equipe chefiada pelo promotor, Pérez já havia acatado denúncias de que Chávarry, estava vinculado a uma rede de corrupção no Judiciário para encobrir as investigações em curso no país.
O pretexto de Chávarry para demitir Pérez foi o de que as denúncias acatadas pelo promotor feriam uma suposta “hierarquia”.
A vice-presidente, Mercedes Aráoz, que ocupa interinamente a presidência desde a viagem de Vizcarra, declarou, em entrevista ao Canal N, que repudia a decisão intempestiva de Chávarry “nas últimas horas do ano para surpreender a população e com o presidente em viagem”.
“Isso demonstra a forma de agir deste senhor, que não atua dentro dos mínimos princípios éticos”, acrescentou Aráoz.
Pérez havia denunciado, no dia 26 de dezembro, o procurador que agora o demite, por obstruir levantamento de provas no processo de investigações por lavagem de dinheiro que apontam para a ex-candidata presidencial, Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Keiko já cumpre prisão preventiva por 36 meses.
As denúncias contra Chávarry, pela promotoria peruana incluem “atos para entorpecer o acordo de colaboração eficaz com a empresa Odebrecht”.
Entre os investigados no caso estão, além de Keiko, os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski – PKK (2016-2018). PKK foi afastado este ano de suas funções exatamente por conta das evidências de recebimento de suborno da Odebrecht.
As denúncias contra o procurador-geral Chávarry incluem a de ter vínculos com a rede de corrupção liderada pelo juiz César Hinostroza, atualmente detido n Espanha enquanto se processa sua extradição ao Peru.