A Justiça peruana pediu a extradição do ex-presidente do país, Alejandro Toledo, aos Estados Unidos. Toledo responde no “Caso Odebrecht” pelo recebimento de US$ 20 milhões em propina para beneficiar a construtora em licitações públicas no país que governou de 2001 a 2006.
Ao anunciar o pedido, na segunda-feira (19), a Justiça do país divulgou que “foi formalizado o requerimento de extradição ativa de Alejandro Toledo aos Estados Unidos, pelos delitos de tráfico de influência, conluio e lavagem de dinheiro”.
Segundo o pedido judicial, o “paradeiro provável” de Toledo é San Francisco.
O suborno pelo qual é acusado de conluio com a Odebrecht garantiu à empreiteira a vitória fraudulenta na licitação da Rodovia Interoceânica, que liga o Peru ao Brasil. Também conhecida como Estrada do Pacífico, a rodovia tem 2,6 mil quilômetros, a maior parte construída por um consórcio liderado pela Odebrecht.
PARAÍSOS FISCAIS
As evidências levantadas pela acusação apontam que pelo menos US$ 11 milhões, de toda a propina paga pela Odebrecht a Toledo, foram transferidas para a conta do empresário Josef Maiman, sócio e amigo do ex-presidente. Após passar pela conta do empresário, o dinheiro seguia para depósitos em paraísos fiscais onde ficava à disposição do ex-presidente.
O esquema de lavagem rendeu outras acusações contra Toledo, como a que o implica na montagem da malha envolvendo a empresa Ecoteva, uma offshore sediada na Costa Rica e utilizada para lavar o dinheiro dos subornos da Odebrecht.
A extradição de Toledo é exigida pela Justiça peruana para que se cumpra uma ordem de prisão preventiva de 18 meses, emitida há cerca de um ano pelo juiz Richard Concepción Carhuancho. Depois de recebida pelas autoridades norte-americanas, a solicitação deve ser encaminhada a Suprema Corte de lá, que avaliará o requerimento em audiência pública.
O pedido foi emitido, pelo Primeiro Tribunal de Investigação Preliminar da Câmara Nacional do Processo Penal do Peru. De acordo com Carhuancho, o pedido de extradição invoca o Tratado de Extradição entre o Peru e os EUA, assim como se baseia na Convenção da ONU contra a corrupção.
Os quatro últimos presidentes do Peru, que ocuparam o cargo desde 2001, respondem a acusações por estarem na lista de propinas da Odebrecht.
O atual presidente, Pedro Pablo Kuczynski, quase foi destituído do cargo, em dezembro do ano passado, após o Congresso do país receber documentos comprovando que a Odebrecht pagou US$ 4,8 milhões a duas de suas empresas. Para salvar sua pele, Kuczynski trocou os votos do partido fujimorista, para livrá-lo do impeachment, pela anistia do ex-ditador, Alberto Fujimori, que dessa forma, foi solto da cadeia.
Sem conseguir explicar o pixuleco que recebeu da Odebrecht e atolado com o indulto a Fujimori, sua aprovação despencou mais de 10 pontos percentuais, atingindo 75% de rejeição. Ao todo, desde que o ditador foi solto da cadeia, cinco manifestações populares foram organizadas exigindo que o governo faça o ditador pagar por seus crimes de lesa-humanidade e corrupção. Agora, um juiz peruano, acaba de exigir o retorno do ex-ditador à prisão.
HUMALA
Já o ex-presidente Ollanta Humala, que ocupou o cargo entre os anos de 2011 e 2016, assim como sua esposa, estão presos desde julho do ano passado, aguardando julgamento. Para se eleger foi apadrinhado pela Odebrecht, que “investiu” US$ 3 milhões em sua campanha.
Em depoimento a investigadores peruanos, no dia 15 de maio do ano passado, Marcelo Odebrecht revelou que o apoio a Humala se devia “ao pessoal do Partido dos Trabalhadores” e que lhe “pediram para apoiar a campanha de Humala”. Na ocasião, “o ministro Palocci [então ministro do governo Dilma e ex-ministro e braço direito de Lula], me fez um pedido para que déssemos US$ 3 milhões para apoiar a candidatura do senhor Humala”.
Ainda em novembro do ano passado, Marcelo Odebrecht assegurou aos procuradores peruanos que “com certeza” pagou propina a Alan García Pérez, que governou o Peru entre os anos de 2006 e 2011.
GABRIEL CRUZ