Recentes revelações comprometem ainda mais a situação do presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski no emaranhado de corrupção detonado pelos subornos e negociatas da Odebrecht. A imprensa local denunciou, na quarta-feira, 31 de janeiro, que quando era presidente do Conselho de Ministros do governo de Alejandro Toledo (2001-2006) – hoje foragido e acusado de receber subornos da construtora – Kuczynski articulou a entrega ao consórcio Camisea, que explora as principais jazidas de gás do país, sem licitação e sem custo algum para a empresa, dos direitos sobre um importante campo de gás com reservas provadas. Esse consórcio, que processa o gás natural do Peru para sua exportação, é formado pela petroleira norte-americana, Hunt Oil, a anglo-holandesa, Shell, a coreana SK e a japonesa Marubeni. Antes de ser nomeado ministro, Kuczynski tinha sido consultor da Hunt Oil.
Há um mês, por seus vínculos com a Odebrecht, que Kuczynski tinha mantido ocultos, o presidente esteve a ponto de ser destituído do cargo pelo Congresso, acusado de armar repasse de obras à construtora quando era ministro de Toledo, através de uma empresa de consultoria financeira de sua propriedade – Westfiled Capital – e de uma segunda empresa – First Capital – de um sócio seu. Pelas informações que vieram à tona nesta semana, a Westfield Capital também deu “assessoria” à Transportadora de Gás do Peru (TGP), encarregada de transportar e comercializar o gás de Camisea. A partir de seu posto no governo, PPK (como é chamado Kuczynski no seu país) teve um papel chave para mudar os contratos entre o Estado e Camisea para favorecer a exportação sem necessidade de garantir primeiro o abastecimento interno. A Hunt Oil também formava parte da TGP. PPK foi também diretor da empresa Tenaris, parte do grupo italo-argentino Techint e encarregada de proporcionar os tubos para construir o gasoduto de Camisea.
Kuczynski não conseguiu explicar as relações espúrias com a Odebrecht e o claro conflito de interesses que estas relações representam e o seu mandato, mas se salvou da destituição depois de negociar o apoio de um setor dissidente da majoritária bancada fujimorista, em troca do qual outorgou o indulto ao ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), condenado em 2009 a 25 anos por crimes de lesa humanidade e corrupção.
O presidente ficou exposto quando as reuniões que, enquanto ministro, teve com Jorge Barata, diretor da Odebrecht no Peru e negociador dos subornos no país, vieram a público. Foram cinco encontros de Kuczynski com Barata, entre novembro de 2004 e maio de 2005, quando PPK era presidente do Conselho de Ministros. Meses antes, a Westfield Capital tinha assinado seu primeiro contrato de consultoria com a Odebrecht. No período em que ocorreram essas reuniões foi articulada a licitação fraudulenta para a estrada interoceânica obtida pela Odebrecht, após um suborno de US$ 5 milhões confessado pela própria empresa. O Conselho de Ministros que PPK presidia aprovou uma série de normas que direcionavam a obra para a construtora, que a obteve em agosto de 2005.
Em maio de 2005, dias depois de outra reunião de Kuczynski com Barata, o governo avalizou um empréstimo da Corporação Andina de Fomento por 77 milhões de dólares para o projeto de irrigação Olmos executado pela Odebrecht e para o qual a Westfield Capital ficou com uma assessoria financeira.
SUSANA SANTOS