Depois de ver negadas todas as suas manobras para tentar vencer as eleições peruanas no tapetão – uma vez derrotada nas urnas – Keiko descamba para o golpismo escancarado ao se negar, por antecipação, a reconhecer a decisão do Júri Nacional de Eleições (JNE), prevista para os próximos dias.
A filha do ex-ditador Alberto Fujimori, preso por crimes de lesa-Humanidade, deverá enfrentar nos próximos dias um julgamento por “lavagem de dinheiro e organização criminosa”, enquanto o país continua sem mandatário, passado um mês após as eleições, algo sem precedentes.
Com apoio de tão somente 13% dos eleitores – segundo o Instituto Ipsos -, que continuam batendo na tecla da suposta “fraude” nas mesas eleitorais das zonas rurais, denúncias sem a apresentação de provas, uma a uma as alegações fujimoristas vêm sendo rechaçadas pelo JNE e que agora só servem para atentar contra a democracia e a estabilidade do país.
Diante da insustentabilidade e do vazio dos argumentos da candidata direitista, a Justiça Eleitoral já anunciou que mais tardar esta semana revisará as demandas para logo ser dada a proclamação a Castillo, que deverá assumir em 28 de julho.
“Não vamos aceitar. Não vamos ficar de braços cruzados. A partida não terminou”, gritou Keiko diante dos seus seguidores, visivelmente irritada. Três vezes derrotada candidata presidencial – também perdeu em 2011 e 2016 – a filha de Fujimori defendeu que seus seguidores continuem pressionando as autoridades para que não respaldem Castillo. “Não ao comunismo. Fora o comunismo”, sublinhou Keiko.
SOBRA FRAUDE, FALTA VOTO
Ao mesmo tempo em que não encontram base em votos de absolutamente nenhuma mesa eleitoral – que só comprovam a vitória do professor – as ‘denúncias’ e o falso discurso de fraude encontra cada vez menos eco na sociedade.
Todos os observadores eleitorais se pronunciaram pela correção do processo e mesmo organismos internacionais tradicionalmente reacionários, que têm o fujimorismo como marionete – como é o caso da Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Departamento de Estado dos EUA – qualificaram as eleições como limpas. Nem um único organismo internacional e nem sequer o governo questionaram a legitimidade do processo.
Aliados de Keiko vieram a público para defender um golpe para anular as eleições, mas não conseguiram. Então estes dias entraram com uma manobra no Congresso para colocar em xeque o novo governo, mas não conseguiram dois terços de votos dos legisladores a fim de nomear novos magistrados do Tribunal Constitucional (TC) para assumir a mais alta corte do país. Há uma ação para anular as eleições que foi rejeitada por falta de base legal, mas que em apelação poderia chegar ao TC como último recurso. O Tribunal pode bloquear leis e políticas de governo declarando-as inconstitucionais.
Seis dos sete magistrados do TC cumpriram sua representação e devem ser substituídos. Há uns meses, o Congresso – que tem vencido seu mandato -, decidiu que a indicação dos nomes do Tribunal deve ser realizada pelo novo Parlamento, que assumirá este mês. Mas logo depois das eleições de abril retomaram o processo de eleição de membros do TC e a aceleraram quando Castillo ganhou o segundo turno, buscando ter um Tribunal mais próximo desta reduzida direita.
O processo de seleção dos candidatos ao TC esteve viciado, marcado por irregularidades e ilegalidades, diante do que um juizado ordenou deter a votação. Apesar disso, uma maioria de parlamentares decidiu desacatar a ordem judicial e seguir em frente com uma “eleição”, que estavam seguros que ganhariam. Mas na hora desta votação a realidade se impôs: seus candidatos não alcançaram os dois terços que necessitavam e amargaram somente 87 votos de 130. Aquele candidato com maior apoio atingiu 81 votos, uma expressiva derrota para a direita, que ficou sem a renovação do TC.
Enquanto isso, no centro de Lima, movimentos sociais e partidos populares se reúnem em um acampamento na Praça da Democracia, em frente ao Jurado Eleitoral, esperando a oficialização do professor rural e que a página de desmandos seja, finalmente, virada.