Os peruanos já saíram às ruas por cinco vezes em pouco mais de um mês, exigindo que o indulto concedido pelo presidente peruano atual, Pedro Pablo Kuczynski, apelidado de PPK, ao ex-ditador Alberto Fujimori, condenado por crimes de lesa humanidade e corrupção, seja revogado e o chefe da chacina e tortura volte para a prisão. O indulto foi concedido em troca dos votos da bancada fujimorista, liderada pelos filhos do ex-ditador, para livrar PPK do impeachment por corrupção, conectada a facilidades para a Odebrecht.
As manifestações ocorrem desde o dia 25 de dezembro do ano passado quando o indulto foi concedido. Do ato, participaram familiares, organizações de direitos humanos e vítimas de Fujimori, que cumpria, desde 2009, uma sentença de 25 anos de prisão.
Os manifestantes, convocados pela organização Assembleia Cidadã, desfilaram pelas ruas de Lima com cartazes com fotos de entes queridos mortos e desaparecidos durante a ditadura fujimorista e faixas pedindo a prisão de Fujimori e também de PPK.
Um grupo de manifestantes desfilou algemado, com máscaras de ex-presidentes peruanos e uniformes de presidiários. Uma das faixas conduzidas no ato dizia “Indulto é insulto”.
PPK, que já foi interrogado por procuradores acerca do escândalo envolvendo a Odebrecht, já é denunciado em outra leva de falcatruas, dessa vez envolvendo concessão de campo de jazida de gás a empresa subsidiária da Shell, associada a empresas do Japão e da Coreia do Sul, a Camisea, a custo zero.
“Este indulto é uma farsa para nós”, declarou durante o ato, Indira Huilca, filha de um sindicalista assassinado pelo Grupo Colina, um esquadrão da morte que operou ao amparo do governo de Fujimori.
A investigação recai sobre pagamentos milionários realizados pela Odebrecht a empresas ligadas a Kuczynski, quando este era presidente do Conselho de Ministros de outro ex-presidente, Alejandro Toledo, que está foragido nos Estados Unidos.
Kuczynski negou, até onde pôde, qualquer vínculo com a empreiteira – centro do propinoduto petista que se espraiou por países latino-americanos – até que a própria Odebrecht decidiu colaborar com a justiça e implicou ao atual presidente.
O presidente ficou exposto quando as reuniões que, enquanto ministro, teve com Jorge Barata, diretor da Odebrecht no Peru e negociador dos subornos no país, vieram a público. Foram cinco encontros de Kuczynski com Barata, quando PPK era presidente do Conselho de Ministros. Meses antes, a Westfield Capital tinha assinado seu primeiro contrato de consultoria com a Odebrecht. No período em que ocorreram essas reuniões foi articulada a licitação fraudulenta para a estrada interoceânica obtida pela Odebrecht, após um suborno de US$ 5 milhões confessado pela própria empresa. O Conselho de Ministros que PPK presidia aprovou uma série de normas que direcionavam a obra para a construtora, que a obteve em agosto de 2005.
O procurador anti-corrupção, Hamilton Castro, que dirige a investigação sobre os ilícitos da Odebrecht, interrogou a filha de Fujimori, Keiko, durante cinco horas.