
O líder da União Soviética, Josef Stalin, é visto de maneira positiva por mais da metade dos russos, a melhor avaliação dos últimos 20 anos, assinalou pesquisa do Centro Levada, divulgada em Moscou no dia 16, sendo que 70% reconhecem seu papel para a Rússia.
A pesquisa foi realizada entre 21 e 27 de março e entrevistou 1638 pessoas com 18 anos ou mais em toda a Rússia, com 95% de probabilidade de acerto e margem de erro de no máximo 3,5 pontos percentuais.
A principal conclusão da pesquisa do Centro Levada é que “atitude positiva em relação a Stalin e seu papel na história do país foi estabelecida no nível de uma nova norma social” na Rússia.
A pergunta “Como você avalia o papel que Stalin jogou na vida do nosso país?” obteve aprovação de 70%. Sendo 52% “bastante positivo” e 18%, “totalmente positivo”.
A pergunta “Como é sua relação pessoal com Stalin?” foi respondida por 41% dos russos como com “respeito”; por 6%, com “simpatia”; e por 4%, com “admiração” – totalizando 51%.
Só 14% manifestaram percepção negativa (“desagrado”, 6%”; “medo”, 5%; e “ódio”, 3%.) nessa pergunta. Declararam-se “indiferentes” 26%. Na primeira pergunta, 14% consideraram o papel de Stalin “um pouco negativo” e 5% optaram por “muito negativo”. 11% não souberam responder.
Como registra o instituto de pesquisa, tais sentimentos predominante positivos sobre Stalin são experimentados não apenas pelos partidários do Partido Comunista, mas também entre os eleitores de Vladimir Putin – na mesma proporção – e entre os de Vladimir Zhirinovsky.
Acontece, ainda, em todas as faixas etárias.
É entre os jovens (18-24 anos) que há mais espaço para o crescimento do apreço pessoal por Stalin, na medida em que nessa faixa etária são 26% os que se definem como “indiferentes”.
O Levada notou como houve um deslocamento na opinião pública, desde a predominantemente negativa dos anos 2000, para a neutra de 2008, até a positiva de agora.
O “indiferentes” nessa faixa poderia bem estar no mesmo processo do “neutra” de 2008.
Em última instância, como já mostrado em outras pesquisas, o resultado reflete a nostalgia do socialismo e suas conquistas daquela parte da população que viveu a grandeza e igualdade da União Soviética, e os anseios e buscas da nova geração, que se vê parte do renascimento da Rússia e tem ojeriza aos oligarcas.
O Centro Levada também registra – embora a contragosto – que a difamação de Stalin está em franca regressão. Em 2008, apenas 27% não acreditavam na campanha difamatória com os “crimes de Stalin”. Na pesquisa deste ano, 46% já rejeitam a difamação do líder soviético.
A intoxicação contra a figura de Stalin prevaleceu desde o nefando ‘Relatório Krushev’ ao XX Congresso, até a queda da União Soviética sob a perestroika de Gorbachev e a traição aberta de Yeltsin, que levaram à restauração do capitalismo e todas as suas mazelas – tamanha catástrofe que até a expectativa de vida dos russos caiu.
Em 2016, o especialista Aleksei Makarkin, do Centro para Tecnologias Políticas, de Moscou – como registrou no Vermelho o jornalista José Carlos Ruy -, analisou esse desenvolvimento na consciência da população russa como uma reação à perestroika, “quando Stalin foi duramente criticado e seus crimes vieram à tona”, aplicando “a lógica ao contrário”.
Assim, constatado desastre que foi a perestroika – apontou Makarkin – como “esta criticava Stalin” deve-se “supor que ele era bom”.
O que é um bom ponto de partida, é parte da verdade, mas não é toda a verdade, especialmente em um país em que o principal feriado, a principal data nacional, é o 9 de maio, vitória sobre o hitlerismo. Vitória da Grande Guerra Patriótica, reverenciada hoje aos milhões no “Regimento Imortal” e comemorações por toda a Rússia.
Para Makarkin, a principal razão para a popularidade de Stalin é que ele era “o comandante supremo” e no imaginário coletivo russo “não se pode ignorar o papel desempenhado pelo homem que comandava o Exército”.
Mas, ignorar o papel de Stalin na vitória sobre Hitler e na construção socialista e industrialização foi exatamente o que foi feito na União Soviética desde 1956 sob Krushev. Denegrí-lo para tentar apaziguar o imperialismo, abandonar a luta ideológica, burocraticamente ir assumindo penduricalhos do mercado e deixar armar a cama para os liquidacionistas e os espertalhões que viraram oligarcas assaltando o patrimônio do povo. Agora, até o Centro Levada atesta a “nova norma social” na Rússia: o apreço por Stalin.
Em tempo: o Centro Levada, que se apresenta como “independente”, foi recentemente enquadrado na lei russa (que reproduz lei norte-americana) que considera ‘organização agente estrangeira’ àquelas que recebem financiamento estrangeiro para seu funcionamento.
As raízes do Levada são um grupo de sociólogos que foi incensado durante a perestroika. No primeiro governo Putin, a estrutura estatal usada pelo grupo foi retomada, e então eles instituíram o Centro Levada privado.
Nesse sentido, as conclusões são ainda mais relevantes.