Na última terça-feira (26), às entidades científicas brasileiras promoveram o debate ‘Quanto Vale a Ciência?’ durante o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Ciência. O contou com a participação de diversas entidades representativas do meio acadêmico e científico, além de parlamentares ligados à educação e à ciência.
O “Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Ciência” foi realizado em repúdio ao corte de quase R$ 600 milhões feito pelo governo Bolsonaro este mês no orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Esse corte coloca em risco a ciência no país e por representar 92% da verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
Desde o início do dia a Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), além de outras entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) realizaram manifestações populares nas ruas e nas redes sociais, reforçando a importância da ciência no país, sobretudo no combate à pandemia da Covid-19.
As entidades durante o debate alertaram para a possibilidade de o país viver um “apagão científico” com a falta de recursos e criticou as iniciativas do governo, das quais definiram como manobras contra a lei, que sugerem a intenção deliberada de prejudicar o desenvolvimento científico.
“Estamos aqui hoje em defesa da ciência, contra os cortes, em especial do FNDCT. Nossa agenda aqui de discussão tem que ser direcionada ao Congresso Nacional. Temos que ter como centro da discussão a recomposição orçamentária da ciência e da educação, além do investimento integral na ciência. Essa é uma pauta fundamental para que a gente consiga não só superar a crise econômica, mas que o Brasil não tenha perdas em seu desenvolvimento”, disse Flávia Calé, presidenta da ANPG ao abrir o debate.
“O Brasil perde a possibilidade de construir a sua autonomia tecnológica, na medida em que investe menos na ciência e na pesquisa e, portanto perde sua soberania para decidir os rumos do desenvolvimento brasileiro”, continuou.
O vice-presidente da SBPC Paulo Artaxo também ressaltou a importância de se combater os desmandos do governo e lutar contra os cortes na ciência.
“Que Brasil a sociedade brasileira deseja construir? Eu acho que essa é uma questão fundamental para o debate. Nós queremos construir um Brasil em que a estratégia de ciência e tecnologia seja definida por um ministro da economia com uma política neoliberal? Em que basicamente trabalha pela concentração da renda e deixa milhares de brasileiros à mercê como nós estamos vendo hoje? Não é esse o Brasil que a sociedade brasileira quer construir, eu acredito que não”, disse Artaxo.
“É fundamental que a luta por recursos no CNPq seja para que a gente possa ter ciência, para que a gente possa construir uma sociedade que seja sustentável e que seja soberana”, continuou.
O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) também falou durante o debate sobre a importância de se combater os negacionistas e a defesa dos recursos da ciência e da pesquisa.
“No Congresso tem sido um enfrentamento diário para a tentativa de fazer-se respeitar uma lei aprovada pela casa. No dia-a-dia, estamos cobrando o governo, os deputados de outros partidos ao menos o mínimo de compromisso, paciência com os recursos que estão carimbados para o CNPq, mas tudo está mais difícil nesse momento de contestação da ciência, por um governo que faz questão de negá-la”, destacou o parlamentar.
“A minha presença aqui é uma presença pra dar força a essa luta, em que nesse momento é fundamental para salvar a ciência nacional. Cada dia vai ficando mais claro que a negação da ciência realizada pelo governo cresce, mas ela não sairá impune. Com a conclusão dos trabalhos da CPI da Covid, eu tenho a expectativa de que esses que atacaram a ciência, destruíram e tentam impedir que ela tenha os recursos básicos para continuar descobrindo a cura para doenças, criando e descobrindo e entendendo natureza, ciências sociais, as ciências humanas o ser humano, certamente serão cobrados pela sua negação. A gente vai ainda experimentar muitas conquistas dos cientistas brasileiros e recuperar um ambiente em que a gente possa ver os cientistas dedicarem o seu tempo e a sua energia à produção de novas descobertas e não a manifestações em defesa de recursos básicos mínimos”, concluiu Molon durante o debate.
“O governo vem a cada ano cortando mais e mais os investimentos no setor, relegando uma infraestrutura montada ao esquecimento e deixando uma grande capacidade humana de produzir conhecimento sem condições de trabalho”, declarou Celso Pansera, secretário-executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br).
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, afirmou que é fundamental se somar neste momento contra os desmandos do governo federal, acaba com a ciência, com a pesquisa e o plano nacional de desenvolvimento do país, pois nenhum país soberano abandona a ciência de seu país.
“Estamos nesse dia de mobilização, de luta, pelo que tem acontecido em todo o Brasil, nas redes sociais e nas ruas. Mostramos a força da nossa mobilização científica que resiste ao negacionismo, à fuga de cérebros e que resiste a qualquer tipo de ataque referente ao debate de ciência e tecnologia”, Bruna.
“Nós da UNE estamos nessa mobilização também construindo um amplo pacto para que a gente consiga proteger minimamente os direitos garantidos aos bolsistas, mas também é fundamental que o projeto nacional de desenvolvimento do Brasil não seja destruído pelo atual presidente da república. Se hoje nós sofremos uma míngua com todos os cortes orçamentários, a gente precisa estar em todos os espaços cobrando a recomposição do orçamento, cobrando o crédito suplementar para educação, para a ciência e tecnologia”, ressaltou a líder estudantil.
Mais de 30 entidades acadêmicas e científicas participaram do ato virtual, entre elas a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Associação Brasileira de Estatística (ABE), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), Sociedade Brasileira de Lógica (SBL), Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), Associação Brasileira das Instituições Comunitárias de Educação Superior (Abruc), Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), Associação Nacional de História (ANPUH).
Veja o debate na íntegra: