“Lucro do pré-sal está sendo distribuído para 63% dos acionistas privados, sendo 47% na Bolsa de Nova Iorque”, denuncia vice-presidente da AEPET
O vice-presidente da AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), Fernando Siqueira, denunciou em entrevista ao programa Faixa Livre a desproporção dos investimentos na Petrobrás em relação ao pagamento de dividendos a acionistas.
Segundo Siqueira, esta política consiste em um erro insustentável que se repete desde 2020. “A estatal teve a menor receita, foi a que mais distribuiu dividendos e a que menos investiu”, denuncia Siqueira.
“Isso é um absurdo completo. A Petrobrás é uma empresa estatal, e uma empresa estatal visa o bem comum, tem que ter uma visão estratégica para o país. E está se comportando como uma empresa privada comum”.
Dados da AEPET que refletem a disparidade entre investimentos e pagamento de dividendos mostram que nem mesmo as petrolíferas privadas distribuem tanto aos acionistas.
Enquanto a Petrobrás distribuiu 9,9 bilhões de dólares de sua receita de U$ 47 bilhões no primeiro semestre de 2024, apenas U$ 4,59 bilhões foram investidos. A Exxon Mobil, por exemplo, teve receita de 176,14 bi de dólares no período distribuiu U$ 8 bilhões de dividendos e investiu U$ 10,2 bilhões na empresa. A Shell teve receita de 149,76 bilhões de dólares, pagou U$ 4,39 bilhões aos acionistas e transferiu quase U$ 8 bi em investimentos na empresa.
“O povo brasileiro está vendo o seu patrimônio sendo dilapidado, sendo pela distribuição de dividendos, seja pelo não pagamento dos royalties. Essas empresas não pagam royalties, não pagam imposto. Essas distorções têm de ter corrigidas”
“O povo brasileiro está vendo o seu patrimônio sendo dilapidado, sendo pela distribuição de dividendos, seja pelo não pagamento dos royalties. Essas empresas não pagam royalties, não pagam imposto. Essas distorções têm de ter corrigidas”, defende o engenheiro.
“Em 2016, a relação entre dividendos e investimentos era diferente. Naquela época, se investia uma média de 40 bilhões de dólares por ano, hoje está se investindo em torno de 8 bilhões de dólares por ano”, completa Siqueira, lembrando que até o governo Fernando Henrique Cardoso, o governo detinha 84% das ações da Petrobrás – ao final do mandato, ficou com 38%.
“Depois, no governo Lula, com a lei de partilha e também a lei da cessão onerosa, se elevou a participação do governo para 48%. Então Bolsonaro mandou o Banco do Brasil e Caixa Econômica venderem a participação que tinham e voltou agora a ser em torno de 36%. Isso significa que o lucro do pré-sal está sendo distribuído para 63% dos acionistas privados, sendo 47% na Bolsa de Nova Iorque”, denuncia Siqueira.