“A transição energética no Brasil será gradual, sem abrir mão da produção de petróleo e gás”, disse Prates. Países que apressaram, de forma açodada, a eliminação dos combustíveis fósseis, como é o caso da Alemanha, estão tendo que retornar ao uso do carvão.
O lançamento do plano de investimentos da Petrobrás para os próximos cinco anos (2024/2028), divulgado na quinta-feira (23), que prevê investimentos de R$ 500 bilhões neste período, traz à tona a discussão sobre a importância de uma visão mais realista da exploração e uso de combustíveis fósseis e a velocidade com que o país deve enfrentar os desafios da chamada transição energética.
O mundo inteiro discute esses desafios e os países que apressaram, de forma açodada, a eliminação destes combustíveis, como é o caso da Alemanha, estão tendo que retornar ao uso do carvão. A pressa irrealista acabou, na verdade, agravando os alegados problemas climáticos.
Especialistas afirmam que as energias alternativas, além de ainda não serem economicamente viáveis, apresentam problemas de instabilidade ainda não solucionados. A relação entre a energia gasta e a energia obtida, que é de 20 para 1 com o petróleo e o gás natural, chega, no máximo, a 2 para 1 nas energias eólicas e fotovoltaicas. São desafios que ainda estão postos para a ciência resolver.
O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, ao anunciar o plano de investimento da estatal, destacou que a “transição energética no Brasil será gradual, sem abrir mão da produção de petróleo e gás”.
“Intensificamos os investimentos em baixo carbono com projetos rentáveis para geração de valor no longo prazo. Vamos fazer a transição energética de forma gradual, responsável e crescente, investindo em novas energias e sem abrir mão, de uma hora para outra, da produção de petróleo ainda necessária para atender a demanda global de energia e financiar a transição energética”, disse Prates.
Durante os debates ocorridos recentemente na Conferência Amazônica sugiram discursos de que se devia abrir mão já dos combustíveis fósseis e se quis até proibir a exploração da Margem Equatorial brasileira.
A posição do governo brasileiro na ocasião foi contrária a essa forma de se enxergar os problemas do uso dos combustíveis fósseis e da exploração da margem Equatorial. O Ibama, responsável pelos pareceres, ainda não autorizou a estatal a fazer as pesquisas necessárias para a exploração da Margem Equatorial.
Se contrapondo aos que não querem a exploração desta região, que fica em alto mar, a 500 km da foz do Amazonas, o dirigente da Petrobrás anunciou que “nos próximos 5 anos serão destinados US$ 7,5 bilhões para projetos de exploração, sendo US$ 3,1 bilhões para exploração na Margem Equatorial”.
“A Petrobrás está voltando a investir em projetos de novas energias. Vamos escolher projetos rentáveis, priorizando parcerias para redução de risco e compartilhamento de aprendizados. Com esta nova frente [a Margem Equatorial], queremos também desenvolver as vantagens competitivas regionais do Brasil“, comentou Prates.
Há também uma cobrança de que o país invista mais no refino de derivados já que os planos de “desinvestimentos”, aplicados nos últimos anos, e agravados pelo bolsonarismo, reduziram a capacidade de produção interna de combustíveis, provocando aumento das importações e instabilidade de preços com penalização dos consumidores brasileiros.
Neste sentido, a previsão, segundo Prates, é de um “aumento de capacidade de processamento em 225mbpd (milhões de barris por dia).
No plano, de U$ 102 bilhões, a Exploração e Produção (E&P) concentrará a maior parte destes investimentos (US$ 73 bilhões ou 71,5% do total a ser investido), com cerca de 67% destinados para o pré-sal. Em seguida, a estatal priorizará o Refino, Transporte e Comercialização (16%), Gás e Energia (G&E) e Baixo Carbono (9%) e o Corporativo (3%).
“Ainda serão necessários investimentos em exploração e produção para que a demanda de energia seja atendida”, disse Prates, ao explicar a necessidade da estatal de manter o seu foco na área de exploração e produção. “Buscamos a reposição de reservas e o desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias que assegurem o atendimento à demanda global de energia durante a transição energética com a menor pegada de carbono possível”, declarou.
A Petrobrás projeta atingir em cinco anos a produção de 3,2 milhões de barris equivalentes de óleo e gás por dia. “Nossa operação reconhecida pela excelência em tecnologia, segurança e baixas emissões nos credencia a desalojar operações menos eficientes. É fazer nossa parte para que essa indústria se comprometa integralmente com a solução para a crise climática”, completou Prates.
A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) considera que o investimento planejado pela estatal – que pode variar entre 18,2 e 20,4 bilhões de dólares por ano – é pequeno em relação ao histórico da empresa. “O investimento médio histórico da Petrobrás, desde 1965, foi de cerca de US$ 22 bilhões por ano, em valores atualizados. Entre 2009 e 2014, a estatal investiu US$ 53 bilhões por ano, também em valores atualizados”, diz Felipe Coutinho, vice-presidente da entidade.
O engenheiro critica ainda a elevada cifra prevista para dividendos. “Falando sobre os dividendos, com base em suas premissas macroeconômicas, a empresa espera que os pagamentos nos próximos anos totalizem US$ 40-45 bilhões (em comparação com US$ 65-70 bilhões do plano anterior), o que pode incluir recompra de ações, com potencial para mais US$ 5-10 bilhões de dividendos extraordinários”, afirmou Coutinho.