Não criou novas refinarias, privatizou e reduziu os investimentos no setor de refino, segundo a FUP
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) alerta que o Brasil corre o risco de desabastecimento de óleo diesel por conta da política de desmonte da Petrobrás implementada pelo governo Bolsonaro que não criou novas refinarias, privatizou e reduziu os investimentos no setor de refino. A entidade denuncia a dependência do país ao produto importado e alerta para a escassez de oferta no mercado internacional e o baixo nível dos estoques mundiais.
O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, afirma que essa dependência é resultado da política de Bolsonaro. “Uma política de desmonte que, com base na política de preço de paridade de importação de combustíveis, contribuiu para a escalada da inflação, atualmente em 12% ao ano”, afirmou Bacelar.
O Brasil, apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, importa atualmente cerca de 25% de suas necessidades de diesel no mercado interno, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP). Para a FUP, é devido à baixa utilização das refinarias brasileiras e à não conclusão de obras importantes no setor.
Segundo especialistas, a ociosidade das refinarias brasileiras giram em torno de 25%.
“Um dos erros cruciais do governo federal foi não ter concluído o segundo trem da Refinaria Abreu Lima (Rnest/PE), especializada na produção de diesel. Errou também ao não investir no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), e ao não construir unidades de coqueamento em algumas refinarias do país – como na refinaria da Bahia, privatizada no fim do ano passado –, que deveriam estar produzindo diesel ao invés de óleos combustíveis”, diz Bacelar.
Em dezembro do ano passado, Bolsonaro entregou para o fundo árabe Mubadala, a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia. Os preços dos combustíveis dispararam na Bahia. Mais recentemente, o governo privatizou a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus.
O dirigente da FUP destacou que com a privatização de refinarias o fornecimento de diesel tornou-se tema de grave preocupação desde que as sanções contra a Rússia alteraram o comércio de combustível. “A Índia está produzindo diesel com petróleo russo e exportando para a Ásia e Brasil. Porém, grande parte do diesel importado pelo Brasil, cerca de 80%, é fornecido pelos Estados Unidos, que estão mandando muito produto para a Europa. Há possibilidade real de faltar diesel no mercado brasileiro ou o preço desse combustível explodir no país”, diz Bacelar, com base em informações levantadas pelo departamento de Economia da FUP.
Segundo a FUP, a demanda brasileira pelo produto tende a aumentar a partir de junho/julho próximo com o aumento da safra agrícola e a maior circulação de caminhões.
Sobre a mudança na direção da Petrobrás, Bacelar considera que a ameaça de desabastecimento de diesel no mercado doméstico a menos de cinco meses das eleições presidenciais levou Bolsonaro ao desespero. “É mais uma cortina de fumaça criada por Bolsonaro, que não muda ou abandona a política de preço de paridade de importação, o PPI, porque não quer. O PPI não é lei; é decisão do Executivo. A questão central é que o governo não quer arranjar briga, nem com o mercado, nem com os acionistas privados que, com o atual modelo, têm a garantia de dividendos espetaculares”, diz o coordenador da FUP.