O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (MDB), admitiu que empresas pagavam uma “taxa de oxigênio” para Pezão, seu vice-governador na época, e Hudson Braga, que era secretário de Obras.
Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) já falava da existência de uma estrutura de recebimento de propinas denominada “taxa de oxigênio” na Secretaria de Obras, mas Cabral não confirmava.
Na terça-feira (27), durante depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral admitiu a existência da estrutura e falou que seu sucessor Luiz Fernando Pezão e o chefe da Secretaria, Hudson Braga, eram os organizadores e maiores beneficiários da propina.
“Eu tinha conhecimento das vantagens indevidas recebidas no âmbito da Secretaria de Obras, de como se dava essa operação. Eu sabia que no âmbito da Secretaria de Obras tinha uma estrutura de pagamentos indevidos durante o meu governo”, afirmou.
Cabral disse que tinha conhecimento da estrutura, mas não estava diretamente envolvido em seu funcionamento. Hudson Braga “prestava contas junto ao ex-governador Pezão”, disse Cabral. “Mas eu me relacionava mais com grandes empreiteiras, não tinha relação com essas médias empresas do Estado”, contou.
Pezão “participava, era beneficiado e me dava satisfação, prestava conta de valores inclusive de terceiros”.
“Se foi 1% ou 2% a cada contrato não sei, mas na Secretaria de Obras eu sabia que existia uma estrutura” de recebimento de propinas. Um dos exemplos citados foi o Programa Bairro Novo. Nele e em outros programas “se apelidou chamar de ‘taxa de oxigênio’, mas para além disso foram muitas obras na estrutura da Secretaria”.
“Diria que de benefício indevido mesmo, não aquela coisa que eu dizia de que era uma espécie de salário, é para além disso. Posso esclarecer o uso dessa taxa de oxigênio, tinham varias estruturações específicas, parte delas eu tinha ciência, parte delas não tinha”, disse.
Cabral contou também que tinha conhecimento que seu assessor de governo, Paulo Fernando Magalhães Pinto Gonçalves, guardou R$ 6 milhões a pedido de Pezão e Hudson. “Paulo Fernando me informou que estava guardando um dinheiro que o Pezão e o Hudson pediram a ele. Paulo Fernando acautelou para eles valores indevidos na ordem de R$ 6 milhões”, disse.
Na quarta-feira (28), o juiz Marcelo Bretas condenou Sérgio Cabral a mais 18 anos de prisão por crimes de lavagem de dinheiro.
A nova pena se refere aos crimes apontados nas investigações das operações Calicute, Eficiência e Mascate. Cabral já foi condenado em 11 ações da Operação Lava Jato. Com a nova condenação, a pena imputada a ele chega ao total de 233 anos e 11 meses.