Há suspeita de combinação de versões em depoimentos, com objetivo de blindar Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da corporação
A PF (Polícia Federal) apreendeu celulares de dirigentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) para saber se eles combinaram o que diriam nos depoimentos para blindar o ex-diretor da corporação, Silvinei Vasques — que está preso —, e buscar mais detalhes sobre reunião, no Ministério da Justiça, para direcionar blitze durante as eleições, a fim de reduzir a votação no então candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos depoimentos, vários dirigentes da PRF afirmaram que não se lembram dos temas abordados por Silvinei na reunião que ele convocou, entre outras contradições nas versões apresentadas.
Dizer que não se lembram do que foi tratado em reunião tão emblemática é fingir amnésia, pois fato como esse fica na memória mesmo que se faça esforço para tentar esquecer. Por aí já se vê que os protagonistas e participantes da dita reunião sabem que cometeram crime. Isso é inescapável.
APREENSÃO DE CELULARES
No final do ano passado, a PF ouviu o ex-coordenador de análise da inteligência da PRF, Adiel Alcântara, e a ex-chefe do serviço de análise de inteligência, Naralúcia Dias, e os investigadores decidiram apreender celulares deles para averiguar a veracidade das versões apresentadas por eles.
Na análise das conversas, a PF encontrou indícios mais fortes de irregularidades durante a reunião que Silvinei convocou. Em mensagens, Adiel disse a colega que Silvinei “disse muita merda” e citou ordens para a execução de “policiamento direcionado” durante o período em que as urnas estiveram abertas.
Se for constatado que eles de fato ocultaram informações com o objetivo de atrapalhar as investigações, os integrantes da PRF irão responder por obstrução da Justiça e/ou falso testemunho.
Após o depoimento do ex-diretor-geral da PRF, na quinta-feira (10), o advogado dele, Eduardo Simão, disse que cliente não cometeu irregularidades no exercício do cargo, e que a operação tinha o objetivo de coibir crimes eleitorais, de todo e qualquer partido político, além de descartar a possibilidade de acordo para delação premiada.
PRISÃO DE SILVINEI
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decretou a prisão preventiva do ex-diretor da PRF, na última quarta-feira (9).
A decisão foi tomada no contexto do inquérito que apura se Silvinei usou a PRF para tentar interferir nas eleições de 2022 em benefício do candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL).
No segundo turno das eleições do ano passado, quando chefiava a instituição policial, a PRF fez mais de 500 operações no transporte de eleitores. As blitze atrasaram votações, em especial no Nordeste, onde pesquisas apontavam a vitória de Lula.
CONDUTA ILÍCITA E GRAVÍSSIMA
Para Moraes, a conduta do investigado, segundo o que foi narrado pela PF, “revela-se ilícita e gravíssima, pois são apontados elementos indicativos do uso irregular da máquina pública com objetivo de interferir no processo eleitoral, via direcionamento tendencioso de recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores.”
De acordo com a PF, Silvinei deu ordens ilegais a subordinados para dificultar “ou até impedir” o trânsito de eleitores, em especial nas regiões em que Lula “havia obtido votação mais expressiva no primeiro turno” das eleições de outubro de 2022.
“As condutas imputadas a Silvinei Vasques são gravíssimas e as provas apresentadas, bem como as novas diligências indicadas pela Polícia Federal como imprescindíveis para a completa apuração das condutas ilícitas investigadas, comprovam a necessidade da custódia preventiva para a conveniência da instrução criminal”, prossegue o texto da decisão.
OPERAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO
Além da preventiva, Alexandre de Moraes autorizou operação de busca e apreensão domiciliar contra Silvinei, o acesso a conteúdo armazenado em computadores, servidores, redes ou dispositivos eletrônicos de qualquer natureza, além de busca e apreensão pessoal. Também determinou a oitiva do ex-chefe da PRF.
A prisão se deu no âmbito da Operação Constituição Cidadã, que apura tentativas de interferir nas eleições. Outros 10 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O ex-corregedor-geral da PRF Wendel Matos, que arquivou apurações internas sobre as blitze, também, foi alvo das operações.
M. V.