Trama golpista fracassou porque os generais do Alto Comando do Exército barraram os intentos criminosos do Planalto. Plano previa intervenção no TSE, anulação da eleição e prisão de Alexandre de Moraes
Um roteiro completo da trama para efetivar um golpe de Estado com o objetivo de anular as últimas eleições presidenciais foi encontrado no telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, o “faz-tudo” de Jair Bolsonaro. As informações foram divulgadas pela revista Veja, na edição que circula nesta sexta-feira (16).
A descoberta do plano se deu em meio às investigações da Polícia Federal sobre os financiadores, organizadores e participantes dos atos terroristas de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto. Os terroristas destruíram as sedes dos Três Poderes na capital federal.
Há no material divulgado pela revista um relatório de 66 páginas da PF, que inclui um documento intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, com um plano que sustenta a tese criminosa, na qual os militares poderiam ser convocados para arbitrar um suposto conflito entre os Três Poderes. A descoberta do roteiro revela claramente que a cúpula das Forças Armadas se recusou a participar da trama golpista.
Cópia de um trecho do plano
O roteiro lista 8 etapas para a execução do plano dos fascistas. São elas:
- nomeação de um interventor federal;
- fixação de um prazo para restabelecimento da ordem Constitucional;
- definição da Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal como subordinadas ao interventor;
- suspensão de atos do Poder Judiciário e afastamento de ministros;
- abertura de inquérito para investigar os ministros afastados;
- autorização para que o interventor suspenda outros atos inconstitucionais praticados pelo Judiciário;
- substituição dos ministros do TSE afastados;
- fixação de prazo para a realização de novas eleições.
As três páginas do roteiro, estipulam que,
“Havendo deferimento, que constará em documento escrito que analisará os fatos descritos pelo Presidente da República e reconhecerá as inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”, serão determinadas uma série de medidas, começando pela nomeação de um interventor, “que coordenará as medidas de restabelecimento da ordem constitucional”, fixação de prazo da intervenção até chegar à determinação de um novo prazo para novas eleições, por exemplo.
O relatório inclui ainda conversas de Mauro Cid com o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, considerado um dos maiores defensores da tentativa de golpe cogitada até dezembro de 2022, às vésperas da viagem do ex-presidente para os Estados Unidos. Em uma delas, ele sugeria que Bolsonaro deveria “dar a ordem” para que as Forças Armadas agissem.
Em uma das mensagens, o coronel sugere que Bolsonaro precisava “dar a ordem” para que as Forças Armadas agissem. “Ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida”, escreveu.
Cópia de mensagens entre os golpistas
Em um áudio enviado ao então ajudante de ordens, o coronel insiste: “Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”.
Mauro Cid responde que Bolsonaro não deu a ordem de intervenção militar porque “ele não confia no ACE”. ACE é a sigla do Alto Comando do Exército, a cúpula formada por generais e pelo ministro da Defesa.
O coronel Jean Lawand Junior, porém, insiste para que o ajudante de ordens convencesse o presidente a “dar a ordem”. Em uma das mensagens, afirma que Edson Skora Rosty, subcomandante de Operações Terrestres, teria lhe assegurado que se “o EB [Exército Brasileiro] receber a ordem“, cumpriria “prontamente”, mas, “de modo próprio”, o Exército não faria nada porque suas ações poderiam ser vistas “como golpe”.
Mauro Cid também fazia parte de um grupo de WhatsApp com “militares da ativa” batizado de “Dosssss!”. A PF não identifica esses militares, mas lista as mensagens e uma ameaça a Alexandre de Moraes.
“Estejamos prontos… A ruptura institucional já ocorreu… Tudo que for feito agora, da parte do PR [presidente], FA [Forcas Armadas] e tudo mais, não vai parar a revolução do povo”, diz um militar. “Vai ter careca sendo arrastado por blindado em Brasília?”, questiona outro.