Dados podem ser usados para embasar o interrogatório de Torres sobre a atuação do Ministério da Justiça de Jair Bolsonaro, no segundo turno das eleições. Articularam operação para tentar impedir eleitores de Lula votar
Os e-mails do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, foram acessados pelos peritos da PF (Polícia Federal).
As informações obtidas da nuvem do celular do ex-ministro da Justiça também foram enviadas para os delegados que lideram as investigações em torno de Torres.
Esses dados podem e, certamente, serão usados para embasar o interrogatório de Torres sobre a atuação do Ministério da Justiça no segundo turno das eleições.
Relatório do MJSP revelado pelo blog da jornalista Andréia Sadi, do G1, mostrou que a PRF (Polícia Rodoviária Federal) fiscalizou significativamente mais ônibus no Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era favorito, do que no Sudeste, entre 28 e 30 de outubro de 2022, vésperas e dia do segundo turno das eleições presidenciais.
DADOS PARA IMPEDIR ELEITORES DE LULA VOTAR
Esses dados foram encontrados durante perícia realizada no celular da ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar.
Em depoimento à PF, ela afirmou que entregou diretamente a Torres mapeamento de inteligência sobre o resultado do primeiro turno das eleições do ano passado.
Torres, que estava no comando do Ministério da Justiça — órgão responsável pela PRF — está atualmente sob custódia preventiva por conta da sua atuação (ou não atuação) nos atos terroristas de 8 de janeiro, quando extremistas de direita invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
DEPOIMENTO À PF É ADIADO
Nesta segunda-feira (24), Torres deveria prestar depoimento para explicar a atuação da PRF no segundo turno das eleições, mas a defesa dele solicitou adiamento, alegando que o ex-ministro não está em boas condições de saúde.
Torres iria depor como testemunha a respeito do uso de operações da PRF durante o segundo turno das eleições de 2022 em regiões onde o então candidato Lula teria mais votos.
O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal está preso desde o dia 14 de janeiro em função das investigações sobre os atos golpistas ocorridos em Brasília, no início do ano.
O inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) apura a omissão das autoridades na contenção dos atos de vandalismo.
PRIMEIROS 100 RÉUS NO PROCESSO
O STF decidiu por 8 a 2, nesta segunda-feira, transformar os 100 primeiros investigados em réus no processo que investiga os atos terroristas dos bolsonaristas, de 8 de janeiro.
O placar do julgamento foi finalizado com 8 votos que seguiram totalmente o relator, Alexandre de Moraes, pelo recebimento integral das denúncias. Os ministros André Mendonça e Nunes Marques seguiram parcialmente o relator.
Em função de aposentadoria de Ricardo Lewandowski, a Corte não conta com o voto do 11° ministro.
Além do relator, votaram pelo recebimento das denúncias feitas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) os ministros Dias Toffoli, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Luiz Fux e a presidente, Rosa Weber.
MAIS 200 INVESTIGADOS
O STF iniciou, nesta terça-feira (25), o julgamento de mais 200 envolvidos nos atos golpistas. Primeiro a votar, o ministro Alexandre de Moraes decidiu pelo recebimento das denúncias da PGR contra os acusados.
A votação começou à meia-noite e vai até às 23h59 da próxima terça-feira (2). Na modalidade virtual, os ministros depositam os votos de forma eletrônica e não há deliberação presencial.
Com a divulgação do voto do ministro, que é relator das denúncias, os demais 9 ministros da Corte também podem começar a votar. Se a maioria aceitar a denúncia, os acusados passarão a responder à ação penal e se tornam réus no processo. Em seguida, o ministro deverá analisar a manutenção da prisão dos acusados que ainda permanecem detidos.
PRESOS
Conforme levantamento do STF, das 1,4 mil pessoas que foram presas no dia dos ataques, 294 (86 mulheres e 208 homens) continuam no sistema penitenciário do Distrito Federal.
Os demais foram soltos por não representarem mais riscos à sociedade e às investigações.
M. V.