O nome do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, aparece onze vezes e vem acompanhado dos maiores valores distribuídos. O total dos repasses da planilha chega a 496 mil reais.
Agentes da Polícia Federal realizaram uma operação de busca e apreensão nos endereços do principal auxiliar do deputado Arthur Lira (PP-AL), Luciano Cavalcante, e do motorista do auxiliar, Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, e encontraram um caderno-caixa, mostrando saldos, repasses, destinatários e datas. As informações são da revista Piauí e revelam movimentações suspeitas feitas pelo auxiliar de Arthur Lira.
As anotações manuscritas, que estavam dentro de um Corolla, referem-se aos meses de abril e maio deste ano. O nome “Arthur”, que os investigadores suspeitam referir-se ao deputado Arthur Lira, aparece onze vezes e vem acompanhado dos maiores valores, que totalizam pouco mais de 265 mil reais. Somando-se todos os depósitos anotados, o total dos repasses chega a 496 mil reais.
Os achados foram resultado da Operação Hefesto – uma referência ao deus grego da tecnologia e da metalurgia -, que investiga fraude em licitação e desvio de 8 milhões de reais na compra de kits de robótica pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O caso levou o deputado Arthur Lira (PP-AL) a dizer que “cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”, tentando afastar se distanciar do assessor e das suspeitas de que o dinheiro desviado poderia acabar no seu bolso.
Segundo a revista, nas anotações do mês de abril, consta que “Arthur” recebeu 20 mil reais no dia 8. Uma semana depois, foram mais 30 mil reais. No dia 17 de abril, houve um gasto de 3 652,00 reais para “Hotel Emiliano = Arthur”. Coincidência ou não, quando vai a São Paulo, o deputado costuma se hospedar no Hotel Emiliano, nos Jardins. Além disso, os registros da Aeronáutica mostram que, no exato dia 17, Arthur Lira embarcou num avião da FAB em Brasília com destino a São Paulo.
O relatório da PF não informa quem é “Djair”, o beneficiário de 29 200 reais, mas há mais uma coincidência: o deputado Arthur Lira emprega em seu gabinete um secretário parlamentar cujo nome é Djair Marcelino. O secretário parlamentar foi denunciado como integrante de um milionário esquema de rachadinha, que, segundo o Ministério Público Federal, Lira comandou na Assembleia Legislativa de Alagoas na época em que era deputado estadual.
No endereço de Wanderson de Jesus, além do caderno-caixa, os agentes da PF encontraram papéis relacionados ao caso dos kits de robótica, apreenderam pouco mais de 150 mil reais em espécie e, também, um manuscrito no qual os signatários declaram ter recebido do deputado Arthur Lira “a importância de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) referente à nova área de 11,5 tarefas [uma medida agrária] do Sr. Manoel Pacheco Filho e Joana Martins Pacheco, pelo qual dou plena e total quitação”. Não há data no recibo.
À Polícia Federal, o motorista Wanderson de Jesus disse que as anotações se referem a pagamentos que ele próprio realizou a mando de Luciano Cavalcante, que, segundo ele, também é o dono do Corolla, onde os documentos foram encontrados. O relatório afirma:
“A grande quantia de dinheiro em espécie apreendida com Wanderson, totalizando R$ 150.200,00 (cento e cinquenta mil e duzentos reais), somada às diversas anotações de pagamentos, que ao que tudo indica eram também feitas em espécie […], configura[m] o tipo previsto no artigo 1º, inciso ii, da Lei nº 9613/98.”
No endereço do próprio Luciano Cavalcante, segundo o relatório, os agentes apreenderam “duas agendas contendo manuscritos que podem ser relevantes para a investigação” e “documentos diversos relacionados à pessoa de Arthur César Pereira de Lira (encontrados na gaveta)”.
No fim da tarde de domingo (25), o deputado divulgou a seguinte nota: “Toda a movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal”.