PF está no encalço das ligações de Cláudio Castro com o Comando Vermelho

Cláudio Castro com o traficante de armas TH Joias, já preso (reprodução)

Quando da prisão de TH Joias, traficante do CV, Castro manobrou para não expor as ligações do traficante com o Guanabara. A cena se repete agora com a prisão de Bacellar

Cláudio Castro (PL) tinha ligações íntimas com o ex-deputado TH Joias (Thiego Raimundo dos Santos Silva), preso pela Polícia Federal em investigações por lavagem de dinheiro, compra de armas e drones para os chefes da facção Comando Vermelho (CV) no Estado. Agora, a prisão de Rodrigo Bacellar volta a expor mais nitidamente as ligações do executivo Fluminense com as facções.

Segundo reportagem do UOL, quando da prisão de TH Joias, traficante do Comando Vermelho, Cláudio Castro obrigou a publicação de uma edição extraordinária do Diário Oficial do Estado em 3 de setembro, na tarde do dia em que o ex-deputado TH Joias havia sido preso pela PF. A prisão se deu nas investigsções de lavagem de dinheiro, compra de armas e drones para facções no Estado.

Esta decisão de Castro está na mira da Polícia Federal (PF) e é considerada a primeira digital do chefe do Executivo fluminense na investigação sobre as ligações do Comando Vermelho (CV) com integrantes do Palácio Guanabara. O governador exonerou às pressas o então secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani (MDB).

Piccini era filho e principal herdeiro político do falecido político Jorge Picciani, que foi preso pela PF quando era presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), assim como Rodrigo Bacellar, atual presidente da Casa, preso na última quarta-feira (3). A manobra, segundo a PF, tinha como objetivo forçar Picciani a voltar para a Alerj e, diplomaticamente, conseguir a saída do cargo de TH Joias, evitando assim que a Alerj fosse obrigada a votar a manutenção ou relaxamento da prisão, como mandam as regras no Estado.

TH Joias era o segundo suplente do partido. Com a morte do deputado Otoni de Paula Pai, em maio do ano passado, uma vaga foi criada no Parlamento. O primeiro suplente, Rafael Picciani, no entanto, decidiu não assumir o cargo e migrou para o secretariado de Castro, abrindo caminho para TH assumir. Com a volta de Picciani, o deputado preso automaticamente perderia seu assento na Casa – assim, não haveria motivo para avaliar sua prisão.

Castro queria evitar ter que se expor para tirar da prisão um parlamentar que já havia sido preso por tráfico anteriormente e que, naquele momento, era suspeito de ter ligação direta com a cúpula do CV. Recusar se envolver e manter a prisão, poderia trazer impactos mais desastrosos e terminar em rompimento com o braço do CV, passando um recado de destruição de pontes com os líderes do tráfico.

Para os investigadores as movimentações de Castro revelaram um dilema do governo fluminense naquela ocasião. Soltar deixaria a nu a ligação de Castro com o crime e obstruir a prisão de TH Joias seria obter “a manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho, facção responsável pelo maior controle territorial do Estado do Rio de Janeiro, o que se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”. Castro parece ter optado pela primeira opção, apesar de dizer que a saída de Picciani tinha a ver com um pacote a ser votado na Alerj.

No dia de toda a movimentação, Castro ainda foi às redes sociais falar sobre a manobra, hoje vista como suspeita pela PF. “Por minha determinação, o deputado estadual Rafael Picciani está retomando seu mandato na Assembleia Legislativa. Ele substitui o deputado estadual TH Joias, preso hoje em ação conjunta das polícias Civil e Federal e do Ministério Público”, publicou o governador, que aparece ao lado de TH em várias fotos divulgadas na internet.

Na decisão que determinou a prisão de Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, nesta quarta-feira (3), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), dá a entender que todo o trâmite, endossado e assinado por Castro, tenha relação com a necessidade de garantir votos para as eleições de 2026.

O despacho do governador é classificado como uma “célere manobra regimental” que, como efeito imediato, tinha como objetivo fazer um “controle de danos” tirando o parlamentar do posto, “visando desvincular a imagem da Alerj do investigado TH Joias, que, como é de conhecimento público, era aliado político e presença constante em eventos institucionais dos Poderes Executivo e Legislativo”

Em um segundo momento, dizem os investigadores, a estratégia implementada com essa “ação obstrutiva” seria obter “a manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho, facção responsável pelo maior controle territorial do Estado do Rio de Janeiro, o que se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”

Por fim, Moraes determinou ao governo do Rio o fornecimento de todas as informações de acesso aos sistemas online oficiais em que tramitaram documentos referentes à exoneração de Picciani do cargo de secretário de Estado, “com horário, usuário responsável, logs de acesso e demais dados disponíveis”. O ministro do STF mandou ainda que a Imprensa Oficial do Estado forneça os dados e horários referentes ao pedido para a criação da edição extraordinária do dia 3 de setembro de 2024

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