
Investigação apurou aparelhamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo do ex-presidente para espionar adversários políticos
A PF (Polícia Federal) concluiu, nesta terça-feira (17), inquérito sobre o aparelhamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a espionagem de opositores e adversários políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Desde as investigações, o caso é conhecido como “Abin paralela”.
Trata-se de mais uma patranha do ex-presidente da República e vários colaboradores diretos, com o objetivo de comprometer as eleições de 2022, criar clima de desconfiança no processo eleitoral e gerar embaraços comprometedores para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
O ex-presidente, o ex-diretor-geral da Agência, Alexandre Ramagem — hoje, deputado federal do PL-RJ —, e o vereador do Rio, Carlos Bolsonaro (PL), estão entre os indiciados pela investigação. Ao todo, 35 pessoas foram apontadas pela PF.
Segundo o inquérito, a Abin foi aparelhada por esquema de espionagem ilegal para atender a interesses políticos e pessoais de Bolsonaro e integrantes da família dele.
OPERAÇÃO ÚLTIMA MILHA
Em outubro de 2023, foi deflagrada pela PF a Operação Última Milha. O nome da operação faz referência ao software “espião” FirstMile. Segundo a investigação, o programa foi utilizado 60 mil vezes pela Abin, entre 2019 e 2023, com pico de acessos em 2020, ano de eleições municipais.
Em janeiro de 2024, os endereços de Alexandre Ramagem foram alvos de busca e apreensão na Operação Vigilância Aproximada.
EIS OS FATOS
A investigação da PF sobre o uso irregular da Abin aponta que a chamada “estrutura paralela” operava com conhecimento e comando direto do então presidente Jair Bolsonaro, e com suporte do então diretor da agência, Alexandre Ramagem.
Entre os alvos do inquérito, estão figuras da atual gestão da Abin, como o diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy. Todos são delegados da PF e foram nomeados aos respectivos cargos durante o governo de Lula (PT).
De acordo com a PF, essa estrutura clandestina dentro da Abin elaborou relatórios sigilosos e operou rede de desinformação contra autoridades do Judiciário, Legislativo, servidores públicos, jornalistas e até um ex-candidato à Presidência.
O grupo também teria monitorado, sem autorização judicial, a localização de milhares de cidadãos por meio de ferramenta capaz de rastrear celulares, a partir das antenas de telefonia.
MONITORADOS
Os monitoramentos, segundo o inquérito da PF, miravam diretamente ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Até o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e o ex-governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato à Presidência em 2022, foram monitorados.
Além de Ramagem, foram indiciados o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que também integravam a cúpula da agência de inteligência à época. Eles negam qualquer participação em operações de espionagem.
CONEXÕES
O relatório da PF ainda traça conexões entre o funcionamento da “Abin paralela” e a trama golpista articulada no fim do governo Bolsonaro. Tanto o ex-presidente quanto Ramagem já são réus no STF, por envolvimento na tentativa de golpe de Estado.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) já havia indicado o uso de estrutura clandestina dentro da Abin com o objetivo de sabotar o sistema eleitoral e fomentar instabilidade institucional.
A PF afirma que Ramagem orientou Bolsonaro a desacreditar as urnas eletrônicas e adotar discurso mais agressivo contra o que chamavam de “sistema”.
Documentos que corroboram essa tese foram localizados em e-mails interceptados durante a investigação, o que reforçou o elo entre a espionagem ilegal e o plano para manter Bolsonaro no poder, mesmo após o resultado das eleições, por meio de golpe de Estado.