A Polícia Federal vai ouvir o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, nesta segunda-feira (8), no inquérito que apura as responsabilidades pelas operações irregulares da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno da eleição passada.
A PF investiga se houve uma tentativa do Ministério da Justiça, quando Torres era ministro, de usar a PRF para dificultar o deslocamento de eleitores em redutos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e beneficiar Bolsonaro.
Torres está preso no 4º Batalhão de Aviação Operacional desde 14 de janeiro por omissão durante as ações golpistas no dia 8 do mesmo mês. Ele estava nos EUA, em Orlando, justamente onde Bolsonaro se acoitou após escapulir do Brasil, no final de dezembro.
Numa operação de busca e apreensão na sua casa, os investigadores encontraram um projeto de decreto golpista, visando instalar um “estado de defesa” para alterar o resultado das eleições presidenciais. O documento foi encontrado dentro de uma pasta com emblema do governo federal.
A primeira vez que Torres deveria ter sido ouvido foi em 24 de abril. Ele não compareceu porque, segundo a defesa, o ex-ministro estava sem condições psicológicas de prestar o depoimento.
São apuradas as blitze em Estados e cidades onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha mais vantagem pelas pesquisas eleitorais e votos do primeiro turno.
No dia 18 de abril, a ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, admitiu em depoimento à PF que produziu mapa para o ex-ministro Anderson Torres dos locais onde Lula obteve mais votos no primeiro turno das eleições.
As planilhas foram elaboradas por Clebson Ferreira de Paula Vieira a pedido de Marília Alencar.
A PF ouviu Clebson Vieira em 12 de fevereiro. No dia seguinte, segundo documentos obtidos pela imprensa, ele procurou a PF para informar que tinha encontrado outros documentos que poderiam ser de interesse da investigação, armazenados na nuvem.
Além desses dados, os investigadores tiveram acesso às mensagens de WhatsApp do celular do servidor.
As planilhas teriam sido usadas por Torres juntamente à PRF na tentativa de impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação no segundo turno. Blitze foram montadas em municípios de Estados do Nordeste com base nesse mapa feito pela inteligência.
Na véspera da eleição para o segundo turno da eleição presidencial, ele viajou para Salvador, na Bahia, e fez uma visita à superintendência da PF para pressionar o chefe local da corporação a aderir à operação ilegal.
No segundo turno das eleições, as abordagens da PRF, em ônibus, foram 70% maiores do que no primeiro turno. No entanto, o procedimento contra veículos de transporte de passageiros havia sido proibido pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.
Por todo o Nordeste, a movimentação da PRF chamou atenção do eleitorado. Somente em Alagoas, 82 ônibus foram parados sem justificativa pelos policiais.
PRF
Segundo a jornalista Malu Gaspar, do Globo, a cúpula da PRF se reuniu no dia 19 de outubro para discutir o plano “Operação Eleições 2022”, montado pelo bolsonarista Silvinei Vasques, então diretor da PRF, para impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação.
A reunião, convocada às pressas, não consta na agenda oficial do então diretor-geral da PRF e sua ata foi manipulada para não apresentar os pontos levantados por Silvinei Vasques.
A reportagem diz que “o principal objetivo do encontro — planejar as blitze que impuseram obstáculos aos eleitores de Lula — não consta do documento”.
Cinco integrantes da PRF, dos três estiveram na reunião, confirmaram que as blitze organizadas por Anderson Torres e Silvinei Vasques foram a pauta da reunião.
Todos que participaram do encontro tiveram que deixar os celulares e relógios do lado de fora da sala. Ninguém pôde participar virtualmente, de forma a impedir que houvesse qualquer registro da reunião.
Os agentes da PRF ouvidos pelo Globo contaram que Silvinei Vasques falou abertamente que “havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa”. Ele disse ainda que se Jair Bolsonaro fosse reeleito todos eles seriam beneficiados.
Vasques queria uma atenção especial para as blitze que ocorreriam na região Nordeste.
“Houve uma votação para chancelar as operações e os contrários concordaram em não manifestar suas divergências publicamente”, completou um dos agentes que esteve na reunião.
A ata falsificada só recebeu assinaturas no dia 10 de dezembro, depois que o jornal O Globo solicitou acesso através da Lei de Acesso à Informação.
Vasques pediu votos ostensivamente nas redes sociais para Bolsonaro na véspera da eleição do segundo turno, o que é ilegal.
EXPULSÃO
Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a Polícia Federal (PF) pretende cortar o salário que Anderson Torres ainda recebe de delegado da PF. Ele informou que a PF já abriu um processo administrativo que deverá resultar no corte do salário.
Sua remuneração de delegado é de cerca de R$ 30 mil mensais.
Ele pode, ainda, num segundo momento, ser expulso da corporação.
SENHAS FALSAS
No dia 28 de abril, foi divulgado que Torres deu senhas de celular inválidas para a PF do celular, que afirma ter perdido em viagem aos EUA.
As senhas de celular, nuvem de dados e e-mails fornecidas por Torres à PF eram incompatíveis.
Ao voltar dos EUA, Torres afirmou que perdeu o celular em solo norte-americano. A defesa de Torres afirmou que ele esqueceu as senhas por um lapso de memória.
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