Gonçalves está afastado da prefeitura desde 11 de agosto, quando foi alvo de operação da PF para investigar desvios de recursos públicos
A semana não começou bem para o prefeito de Rio Largo (AL), Gilberto Gonçalves (PP), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ele foi preso pela Polícia Federal na manhã desta segunda-feira (22), na casa onde mora na cidade. O aliado fiel de Lira está afastado do cargo desde o dia 11 de agosto, após ter sido alvo de mandados de busca e apreensão por suspeitas de desvios de verbas públicas do município.
Atualmente, a mulher de Gilberto, Cristina Gonçalves, que é a vice-prefeita, é quem responde pela gestão do município.
De acordo com o advogado Fábio Gomes, que responde pela defesa do prefeito, Gilberto foi alvo de mandado de prisão preventiva porque estaria atrapalhando as investigações da Polícia Federal.
Um dos documentos municipais buscados na ação não foi encontrado.
CONTRATAÇÕES E PAGAMENTOS IRREGULARES
A investigação aponta que as contratações e respectivos pagamentos para aquisições de material de construção, peças e serviços para veículos realizados pelo município de Rio Largo, em favor de duas empresas, teriam ocorrido de forma irregular.
A prefeitura de Rio Largo já pagou às duas empresas investigadas, Litoral Construções e Serviços Ltda. e Reauto Serviços e Comércio de Peças, mais de R$ 18 milhões. As autoridades suspeitam que ao menos R$ 12 milhões teriam sido desviados.
Ainda segundo a Polícia Federal, entre 2019 e 2022, foram realizados 245 saques “na boca do caixa” de contas de tais empresas, com o valor unitário de R$ 49 mil, logo após terem recebido recursos de contas do município de Rio Largo.
Saques neste valor visam burlar o sistema de controle do Banco Central/Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que prevê a obrigatoriedade das nstituições bancárias informarem automaticamente transações com valores iguais ou superiores a R$ 50 mil.
A operação foi chamada de Beco da Pecúnia, referência ao local onde a Polícia Federal flagrou quatro entregas de valores a pessoas vinculadas à prefeitura logo após terem sido sacados por duas pessoas que trabalham em empresas contratadas pelo município.
ALIADO FIEL DE ARTHUR LIRA
Na saída do aeroporto de Maceió, divisa com a cidade de Rio Largo, placa presa em viaduto não deixava margem para dúvidas.
Na placa, o presidente da Câmara, Arthur Lira, aparecia ao lado do prefeito de Rio Largo, Gilberto Gonçalves (PP), que o parabeniza pela vitória, em fevereiro de 2021. Na zona urbana da cidade, placas se replicavam com novas congratulações a Lira.
O município foi irrigado com R$ 41,6 milhões oriundos de “emendas secretas”, número que superou cidades maiores como Arapiraca, que no mesmo ano recebeu R$ 1,4 milhão, e Maceió, que obteve R$ 14,7 milhões.
Peças-chave do jogo político em Brasília, as emendas do relator são distribuídas por governistas em votações importantes no Congresso, para privilegiar aliados. Não há base de dados pública com a lista de deputados e senadores beneficiados por essa negociação política.
SEM SEGREDOS
Em Rio Largo, contudo, não há segredo. O prefeito Gilberto Gonçalves deixava claro como sol da manhã que os recursos que irrigaram os cofres da cidade em ano eleitoral tinham como origem o deputado federal Arthur Lira, de quem é fiel aliado.
O grosso dos recursos foi liberado em agosto de 2020, mês que marcou o início da campanha das eleições municipais, para ser investido em obras de pavimentação de ruas em Rio Largo.
M. V.