O segundo pacote, que conseguiu entrar clandestinamente no país, avaliado em R$ 400 mil, foi entregue a Bolsonaro sem que os impostos fossem pagos
A Polícia Federal quer ouvir o ex-ministro Adolfo Sachsida, de Minas e Energia, que estava no cargo em novembro de 2022, quando o segundo pacote de joias que entrou ilegalmente no Brasil, contendo um relógio, uma pulseira em couro, um par de abotoaduras, uma caneta rosa gol, anel e um masbaha (uma espécie de rosário islâmico) rose gold, todos da marca suíça Chopard, foi entregue pessoalmente a Jair Bolsonaro.
As joias, na verdade, estavam em dois pacotes. Um estimado em R$16,5 milhões, apreendido na alfândega quando um assessor do ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, tentou entrar com as joias escondidas na mochila, e o outro, com as joias citadas, avaliadas em R$ 400 mil, que conseguiu passar sem ser notado.
Esse segundo pacote, que entrou clandestinamente no país, passou um ano no cofre do Ministério das Minas e Energia até que, em novembro de 2022, foi entregue pessoalmente pelo ajudante de ordens do Planalto, coronel Mauro Cid, a Jair Bolsonaro. A entrega foi documentada, confirmando que Bolsonaro recebeu as joias ilegais.
A entrega irregular, já que as joias entraram clandestinamente no país, se deu durante a gestão de Adolfo Sachsida. Ele ocupou o comando de Minas e Energia em substituição ao ex-ministro Bento Albuquerque. Na gestão de Sachsida, as joias chegaram ao Brasil pelo aeroporto de Guarulhos sem as devidas formalidades legais.
Bento Albuquerque também será ouvido pela PF no caso. Ele liderava a comitiva do governo brasileiro que, em outubro de 2021, recebeu as joias do governo da Arábia Saudita durante viagem ao Oriente Médio.
Nesta viagem, o ministro, como apoio de Bolsonaro, acertou a venda subfaturada da refinaria Landulpho Alves, da Bahia, uma das maiores do país, para o fundo árabe Mubadala, cujo sócio principal é o governo dos Emirados Árabes. Quando um assessor seu foi barrado tentando entrar legalmente com as joias no Brasil, o ministro tentou liberá-las no próprio local, afirmando que eram presentes para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O funcionário esclareceu que, sendo presente oficial para o Estado brasileiro, as joias poderiam ser liberadas para o acervo da Presidência. Caso contrário, se fosse um presente pessoal, as taxas alfandegárias teriam que ser pagas.
O servidor da Receita orientou que o ministro preenchesse a documentação registrando as joias como presentes oficiais, pois, assim, poderia liberá-las. O ministro se recusou a registrar oficialmente as joias e, algum tempo depois, teve início uma gigantesca pressão do Planalto para liberá-las.