“Fizemos a perícia nas propriedades e temos indícios de que os incêndios foram provocados a fim de criar novas áreas de pastagens”, afirmou o delegado federal Daniel Rocha, que comanda as investigações, desmentindo as versões de Bolsonaro e Salles
A Polícia Federal já coletou provas suficientes para indiciar fazendeiros pelo início das queimadas no Pantanal de Mato Grosso do Sul.
As informações serão encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF) que, após analisar a questão, pode ou não denunciar os investigados à Justiça Federal.
Segundo o portal UOL, quatro produtores rurais foram identificados como responsáveis por incêndios na Serra do Amolar, uma cadeia de montanhas em meio à já conhecida área alagada que abriga o Parque Nacional do Pantanal.
A partir de imagens de satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da Nasa (agência espacial norte-americana), os peritos da PF encontraram vestígios que indicam a ação humana nas queimadas nas propriedades rurais.
A PF também colheu na região depoimentos de trabalhadores das fazendas e de moradores da região.
Os focos surgiram quase que ao mesmo tempo, em 30 de junho, em quatro propriedades rurais próximas ao Rio Paraguai. Testemunhas disseram aos agentes que os produtores rurais ordenaram dias antes a retirada de todas as cabeças de gado dos locais onde começaram as queimadas.
Para a PF e o MPF, esse fato indica que a prática de colocar fogo na vegetação para o plantio de pastagens pode ter sido uma ação combinada entre os fazendeiros.
O delegado federal Daniel Rocha, que comanda as investigações, disse que a operação foi desencadeada depois de uma minuciosa análise das imagens de satélite feita por peritos de Brasília que praticamente “deram o mapa da trajetória do fogo”. “Quando sobrevoamos a região, vi uma imagem que jamais podia imaginar. Um mar de água doce transformado em fumaça e fogo”, declarou.
“Fizemos a perícia nas propriedades e temos indícios de que os incêndios foram provocados a fim de criar novas áreas de pastagens”, afirmou Rocha. O delegado aguarda a transcrição das conversas telefônicas e os laudos da perícia para concluir o inquérito.
As polícias Civil e Militar do Estado também chegaram à conclusão de que houve ação humana nas queimadas ocorridas nas fazendas da Nhecolândia, área central do Pantanal.
Os fazendeiros envolvidos podem ser indiciados por danos às áreas de preservação permanente e unidades de conservação, incêndio e poluição. As penas previstas na legislação, somadas, podem chegar a 15 anos de reclusão.
LIVE
As conclusões da PF desmentem as versões de Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Salles participou na quinta-feira (24) da live semanal de Jair Bolsonaro e ambos procuraram aliviar as responsabilidades dos criminosos nas queimadas do Pantanal.
Segundo o ministro, a “perseguição aos pecuaristas” no Mato Grosso tem relação com o aumento do fogo no Pantanal. De acordo com Salles, outro motivo para os incêndios acentuados foi a redução da “queima controlada”, chamada de “fogo frio”.
E despejou uma explicação mirabolante para dizer que os incendiários são injustiçados.
Segundo ele, “o pantaneiro, o pecuarista, ele é um colaborador. E a pecuária ajuda também a diminuir a matéria orgânica porque o gado come o capim, come o pasto. E, com isso, não deixa acumular. E vem havendo naquela região, ao contrário do Mato Grosso do Sul, que controlou esse assunto, no Mato Grosso [há] uma perseguição muito grande contra os pecuaristas. Resultado: diminuiu o gado, aumenta a quantidade de capim e de mato. Quando pega fogo, pega fogo num monte, num volume gigantesco”.
Já Bolsonaro se saiu com a antiga narrativa responsabilizando a “esquerda” de “se aproveitar” dos incêndios e o acusar de estar tocando fogo no Pantanal ou de não estar tomando providências para apagar as chamas. “Pantanal: uma área enorme. Maior do que 4 Estados juntos. Você pega aí Sergipe, você pega aí Alagoas, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Imaginou o tamanho da área? E nós fazemos o trabalho de conter os focos de incêndio”.
Ricardo Salles avalizou outra narrativa sem pé nem cabeça de Bolsonaro, segundo a qual a Amazônia não pega fogo porque a floresta é úmida, na contramão do que todo mundo está vendo. O ministro ainda disse que a culpa do desmatamento é da “intervenção humana” na região feita “ao longo de 500 anos”.
“O núcleo da floresta, que é úmido na parte que não é seca, não pega. O que pega fogo é no entorno, onde houve diminuição da vegetação porque houve intervenção humana, intervenção essa ao longo de 500 anos. 84% da Amazônia é preservada de maneira primária, ou seja, igualzinha quando os portugueses chegaram aqui”, chutou o ministro.