A Polícia Federal (PF) quer aprofundar as investigações e verificar a efetivação dos pagamentos de propina da Odebrecht, entre julho e agosto de 2014, para os senadores Renan Calheiros (MDB-CE) e Romero Jucá (MDB-RR).
Os repasses no valor de R$ 5 milhões estão contidos na planilha “Exportação” para “Caju” e “Cacique”, codinomes atribuídos a Romero Jucá, e “Atleta” e “Justiça”, os codinomes de Renan Calheiros.
A propina foi paga como contrapartida pela aprovação da Medida Provisória (MP) 627/2013, que implantou um regime tributário que beneficiou o grupo Odebrecht. O inquérito tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para checar se os pagamentos foram efetivamente realizados, a Polícia Federal quer analisar os dados fornecidos pelo doleiro Vinicius Claret, conhecido como Juca Bala. O doleiro, colaborador da Justiça, forneceu os dados da planilha “Exportação”.
O delegado da PF, Bernardo Amaral, responsável pelo inquérito, pediu ao STF um prazo de mais 60 dias para investigar e cruzar os dados de Juca Bala. Ele solicitou a produção de Relatório de Análise de Polícia Judiciária sobre informações da movimentação financeira.
O doleiro Juca Bala foi preso na Operação Eficiência, em março de 2017, no Uruguai, junto com o também doleiro Cláudio Fernando Barbosa, o Tony. Eles foram delatados pelos irmãos Renato e Marcelo Chebar, doleiros utilizados pelo esquema do ex-governador Sérgio Cabral (MDB).
As informações de Claret, Juca Bala, foram fundamentais para desbaratar uma rede de doleiros que lavavam dinheiro da corrupção e enviava para o exterior. A partir dos dados de Juca Bala foi desencadeada em 3 de maio de 2018 a Operação Câmbio, Desligo que visou prender 45 doleiros e desbaratar uma organização criminosa voltada para a prática de crimes financeiros, como evasão de divisas, lavagem de dinheiro transnacional, ocultação e ocultação de divisas. Aqui.
A organização criminosa movimentava US$ 1,6 bilhão de dólares (cerca de R$ 5,290 bilhões), num esquema composto por 3 mil offshores (empresas criadas em países que aceitam essas atividades ilícitas, os chamados paraísos fiscais) em 52 países. O principal alvo da “Câmbio, Desligo” é Dario Messer, que mora no Paraguai e está foragido até hoje.
Pelas mãos de Juca Bala, Sérgio Cabral conseguiu evadir US$ 85 milhões (mais de R$ 280 milhões).
Segundo Juca Bala, a Odebrecht usava corretoras e transportadoras para pagar propina aos políticos corruptos, como Cabral e outros. Entre elas, a Odebrecht utilizava a Hoya Corretora de Valores e a transportadora Transnacional/Transexpert, que eram responsáveis pela efetivação das entregas de dinheiro.
São essas informações que a PF quer cruzar para apurar o recebimento de propina por Jucá e Renan.
O delegado Bernardo Amara quer produzir um relatório que apresente a análise cronológica dos documentos encontrados, tratando de eventuais comunicações internas do grupo Odebrecht com seus “prestadores de serviços” (doleiros), ou ainda com pessoas externas à empresa acerca de eventuais negociações para realização do pagamento de valores em sistema de contabilidade paralela; suas previsões ou cronogramas; tratativas para a realização dos pagamentos dos valores, acerca de locais e senhas, e ainda; comprovações efetivas acerca dos pagamentos realizados.
O relatório da PF deverá indicar, ainda, se a partir dos materiais apreendidos é possível se extrair a identificação do beneficiário dos valores.
“Para a continuidade das investigações entendo indispensável também análise comparativa entre as planilhas apresentada pelo doleiro e colaborador Vinicius Claret, no tocante às anotações do programa “Exportação” junto às demais fontes de informação externas ao grupo Odebrecht, oriundas das empresas Hoya Corretora de Valores e Transnacional/Transexpert, responsáveis pela efetivação das entregas de dinheiro”, frisou Amaral.
O pedido do delegado foi apresentado no último dia 8, mas só foi disponibilizado nesta semana.
As informações de Juca Bala são usadas em outros inquéritos, como o que investiga o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
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